Por que escrevemos Brasil com S?
Atualmente à frente da Abear, Eduardo Sanovicz foi presidente da Embratur quando o Plano Aquarela foi lançado e conta o processo de elaboração da marca
Atualmente à frente da Abear, Eduardo Sanovicz tem um extenso currículo no Turismo. Dentre os cargos que já ocupou, o de presidente da Embratur pegou justamente a época da criação do Plano Aquarela, marca que ainda representa o Turismo do Brasil no Exterior. Em artigo enviado ao Portal PANROTAS, o também professor doutor Sanovicz dá sua visão sobre a maneira como a atual gestão da Embratur vem conduzindo o caso.
Veja na íntegra*:
Por que escrevemos Brasil com S?
A Marca Brasil, utilizada desde 2004 como símbolo de nossa promoção turística internacional, é resultado de pesquisas realizadas em 18 países com milhares de entrevistados, além de dezenas de debates envolvendo todos os setores profissionais do Turismo em nosso País.A partir deste amplo material construiu-se o Plano Aquarela, objetivando posicionar a imagem do Brasil no mundo e que obteve amplo sucesso enquanto teve os investimentos gerenciais e financeiros necessários para tanto: entre outros feitos, o Brasil viu suas receitas turísticas internacionais subirem de US$ 1,9 bilhão para quase US$ 5 bilhões anuais, passarmos de 21º para 7º país em número de eventos internacionais e superarmos por meio do foco no segmento de negócios e eventos, apostando no aumento do gasto médio dos passageiros, a crise gerada com o fim dos milhões de assentos aéreos que perdemos quando a Varig quebrou em 2005.
Naquele processo, mensuramos o potencial de nossos atrativos, ouvimos turistas domésticos e estrangeiros para saber o que lhes motivava a viajar, levantamos os dias de permanência e o perfil de hospedagem e perguntamos quais cores e formas para eles, representavam o Brasil. Constatamos que a qualidade e a diversidade da produção cultural brasileira deviam ser o eixo das ações de promoção turística internacional e por isso a opção de escrever o Brasil com S, reafirmando nosso idioma como um instrumento de identidade cultural.
Com as informações apuradas fizemos um concurso público nacional em parceria com a Associação dos Designers Gráficos do Brasil (ADG). Entre dezenas de propostas saiu a marca vencedora por decisão unânime do júri, com um prêmio pago ao autor no valor de R$ 30 mil, à época.
A amplitude do processo foi de tal ordem que em poucos meses diversas empresas brasileiras com presença global já utilizavam a marca, incluindo-a em produtos exportados. O Plano Aquarela e a Marca Brasil receberam investimentos e dedicação de diversos governos federais, estaduais e municipais, além de entidades setoriais do Turismo e dos principais Convention Bureaux do País.
Portanto, consolidar a Marca como abre-alas da promoção turística internacional do Brasil levou anos e foram milhões de reais investidos por agentes públicos e privados, com resultados positivos mensuráveis e conhecidos. Foi rigorosamente o mesmo processo usado por países como Espanha e França (cujas marcas turísticas perduram por décadas) muito antes de nós, e que nos serviram de referência técnica e conceitual. Substituir a Marca Brasil de forma improvisada não é economizar recursos públicos, ao contrário, é jogar dinheiro pela janela e comprometer o que ainda está de pé da capacidade competitiva do País em um mercado altamente disputado.
A direção atual da Embratur tem todo o direito de rever o processo e propor as alterações e ajustes que julgar necessários. Pode rever a Marca e propor outra. Não se discute isso.
O que centenas de profissionais de Turismo em todo o Brasil estão apontando é para a necessidade de fazer isso com o mesmo rigor técnico com que foi construído o programa original. O Turismo, destacadamente no mercado internacional ao qual a Embratur se orienta desde 2003, é de concorrência acirrada e não tem espaço para decisões apressadas.
Esta é a demanda à qual nos somamos, até para singelamente reconhecer e homenagear Walfrido dos Mares Guia, o Ministro do Turismo que liderou aquele time; Josep Chias, nosso orientador reconhecido internacionalmente por seus trabalhos; Kiko Farkas, o designer que ganhou o concurso e é o autor da Marca Brasil; e destacadamente os centenas de profissionais, tanto da antiga "aldeia gaulesa", como se apelidou a equipe Embratur daqueles anos pela garra com que atuavam seus integrantes, quanto dos diversos setores do Turismo brasileiro que participaram e construíram os expressivos resultados entregues ao País naqueles anos.
*Eduardo Sanovicz é presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas - Abear e Professor Doutor da Escola de Artes Ciências e Humanidades da USP. Foi presidente da Embratur e da SPTuris, foi diretor do São Paulo Convention & Visitors Bureau, da Reed Exhibitions Alcantara Machado, vice-presidente da International Congress & Convention Association ICCA e diretor de Turismo da Cidade de Santos.
LEIA TAMBÉM
Embratur justifica nova marca como opção mais econômica