Como a Flot acredita na superação de mais uma crise
Operadora de 36 anos enxugou custos, garante solidez para fluxo de caixa e remodelou prateleira
Nunca se viu crise tão desafiadora para a indústria do Turismo como a atual, provocada pela pandemia de covid-19, e as operadoras de lazer são um dos elos da cadeia produtiva que mais sofrem o impacto, devido à gestão de fluxo de caixa com receita praticamente zerada. Quem tem relatos positivos a se fazer em meio a esse calvário pode ser destacado, como é o caso da Flot.
O presidente da operadora, Eduardo Barbosa, garante que sairá desta crise graças aos mesmos sustentáculos que conduziram a Flot de 1984 até aqui, atravessando recessões de todas as naturezas. Um destes pilares é o conservadorismo em relação à administração da empresa. Abrir as portas para o novo, evoluir com as novas ferramentas disponíveis do mercado, mas sempre com prudência.
“Ao longo desses 36 anos nós conseguimos deixar clara essa imagem sólida a todos os parceiros envolvidos: com nossa equipe, claro, e com os agentes de viagens, que são nossos clientes, mas também com os fornecedores. Temos uma relação muito importante com todos esses, e talvez esteja aí um dos mais importantes pilares nesses anos todos”, afirma Barbosa. “O Turismo passa por momentos férteis, em que o mercado está aquecido, e nesses períodos surgem novas empresas com modelos muito arrojados ou então empresas já existentes que buscam alavancar seus negócios com políticas mais agressivas. É dessas políticas que buscamos distância. Tentamos acompanhar até onde der, mas de maneira prudente. Na época em que essas crises acontecem, nos somos reconhecidos pelos nossos clientes como um porto seguro onde podem colocar seus passageiros. E isso gera uma imagem positiva para os fornecedores consequentemente.”
CAPITAL DE GIRO
Uma operadora está fadada ao fracasso caso perca a mão da gestão de seu capital de giro. Não só Eduardo Barbosa, mas outros especialistas do setor concordam que esse é o atalho mais rápido para a bancarrota neste modelo de negócios. “Esse é um dos pilares de nossa solidez. É com isso que mostramos crise após crise que estamos em pé. Posso contar nos dedos os momentos que nesses 36 anos precisamos renegociar nossos recebidos. A Flot sempre fez autofinanciamento. Não precisamos descontar cheques pré-datados, boletos...”, assegura o presidente da operadora.
Entre os exemplos de manutenção de caixa nas piores crises, ele menciona o pagamento em dia aos fornecedores em tempos de flutuação cambial. “Já tivemos vários momentos em que a defasagem do real nos colocou em prejuízo e levou muitas operadoras, mas nós sequer atrasamos os pagamentos. É desta credibilidade que estou falando.”
E A CRISE ATUAL?
Barbosa relata um 2019 positivo para a Flot, com 20% de crescimento no faturamento na comparação com o ano anterior. Eis que a empresa, que tem nos destinos internacionais sua principal frente de atuação (85% do share), sentiu a chegada da crise antes do primeiro caso de covid-19 ser registrado no Brasil, devido a cancelamentos prévios de Ásia e principalmente Europa. “Quando vimos a situação da Itália, sentimos o baque e rapidamente nos reorganizamos. Começamos cuidando dos passageiros com viagens contratadas, fazendo remanejamentos. Concomitantemente, renegociamos nossos custos falando com os provedores. Logo na sequência, teletrabalho, redução de jornada e redução de salários, tudo conforme previsto pelas leis”, afirma Barbosa.
Ainda assim, a Flot desligou 40% de seu quadro de funcionários. “Essa foi a parte mais difícil. Lá por abril percebemos que a situação seria maior do que imaginávamos e tivemos de moldar a empresa já com a definição de que a retomada dos negócios será apenas em 2021”, lamenta o presidente da Flot.
PRATELEIRA REMODELADA
Tendo o internacional como carro-chefe, a Flot se viu obrigada a trabalhar com o doméstico em 1999, ano em que dólar indexado subiu no segundo semestre, inclusive provocando quebras. Depois de 2004 o inter voltou a protagonizar. Os destinos brasileiros voltaram com mais volume na operadora há dois anos, quando, segundo Barbosa, os clientes pediam uma “Flot completa”.
“Reinvestimos forte no nacional por volta de 2018, e foi uma coincidência feliz, visto que agora acreditamos no doméstico como condutor da operadora nos próximos dois ou três anos”, afirma, deixando claro que o nome disso não é sorte, e sim trabalho. “Nossa relação próxima com o agente de viagens é que resulta nessas transformações de prateleira. Nosso departamento comercial já vem trazendo essas oportunidades há dois anos e nossa equipe abraçou. Hoje a Flot tem uma boa prateleira doméstica.”
Muito disso está nas mãos de Simone Rodrigues, gerente de Vendas e Produtos da Flot há quase um ano. A executiva chegou da Visual, operadora que tem destinos brasileiros em seu DNA. “Desde sua chegada estamos negociando com fornecedores e ampliando produtos. Atendemos praticamente todas as regiões no País”, afirma Barbosa. “Entretanto, nosso diferencial é investir em produtos sem massificação, para evitar choque de competição. Resorts butiques, pousadas e pequenos estabelecimentos são nossas prioridades, mas nem por isso deixamos de atuar com grandes resorts, como o Costão do Santinho, o Iberostar, a Praia do Forte, a Pousada do Rio Quente, o Vila Galé... Está tudo em nosso portfólio.”
MINI VANS NA EUROPA
A Flot espera fazer o doméstico responder por 40% neste ano. Para não perder o internacional de vista, a empresa está readaptando um deu seus principais chamarizes na Europa, que são os circuitos em ônibus.
“Fizemos roteiros com vans. Assim facilitamos o ingresso de pequenos grupos, para se viajar apenas entre famílias e pessoas conhecidas. Conforto maior, menos aglomerações e personalização de circuitos. Perfeito para viagens entre seis e oito pessoas. Já temos programação que vai até o final de 2021, com saídas fixas, nas mesmas datas que sairiam os ônibus. Acreditamos muito nesse produto.”
Por fim, Barbosa destaca os treinamentos que a companhia vem realizando com os agentes de viagens sobre destinos e acrescenta. "Sempre foram nossa prioridade, e é uma categoria que vai ganhar muita força depois da crise. Os viajantes vão colocar segurança à frente de tudo, e quem carregará as informações são justamente os agentes de viagens. Serão fundamentais."