Como é a experiência de uma expedição de luxo na Antártica
Modalidade se multiplica em navios cada vez mais confortáveis e exclusivos
Mari Campos, especial para a Revista PANROTAS
A brisa gelada entrou devagarinho na cabine aquecida enquanto o serviço de quarto deixava meu café da manhã na mesinha da varanda. Bem agasalhada, era ali mesmo que eu começava, cedinho e extasiada, o meu dia: tomando o desjejum diante de impressionantes picos nevados e icebergs. Depois da longa e movimentada travessia do Drake, chegávamos, finalmente, à Antártica, em uma manhã ensolarada, de céu muito azul e o termômetro marcando 8 graus.
Uma hora depois, desembarcava do aconchegante SH Minerva, um dos novos navios de expedição da Swan Hellenic Cruises, em solo antártico, entre outros 99 passageiros tão animados quanto eu – preparados para muitas outras manhãs espetaculares pela frente, despertando cada dia em um ponto do continente mais ao sul do planeta.
Chegar ao “sétimo continente”, como os americanos gostam de dizer, seguindo os passos de Shackleton e tantos outros exploradores e aventureiros, é a viagem número um da bucket list de muita gente. O desejo de alcançar destinos míticos e remotos como a Antártica não é novidade; mas está cada vez mais em evidência – e mais acessível ao viajante de luxo contemporâneo, com novos navios lançados todos os anos, confirmando uma tendência em franco crescimento no setor.
Os cruzeiros de expedição à Antártica, uma das principais tendências do Turismo de luxo, se multiplicam em navios cada vez mais confortáveis e exclusivos para aventuras inesquecíveis ao continente gelado. Com beleza e emoção arrebatadoras a cada dia, a Antártica é difícil de rivalizar com qualquer outro destino do planeta. Distante das multidões – afinal, cada ponto de desembarque por ali só permite um máximo de 100 pessoas por vez – explorar a chamada "última fronteira" nunca foi tão viável e factível quanto hoje.
As antigas embarcações de pesquisa, por muito tempo as únicas a chegar por ali, hoje deram lugar a cada vez mais incríveis navios e iates de expedição que não param de evoluir nos quesitos conforto, tecnologia e, felizmente, também sustentabilidade – em viagens com experiências autênticas, intensas e exclusivas. A exclusividade de explorar alguns dos cantos mais remotos do planeta hoje não nos pede para abrir mão de serviços impecavelmente personalizados, luxuosas acomodações, gastronomia de alto padrão e belos spas. Com tripulações em número muitas vezes bastante similar à capacidade máxima de hóspedes, muitos desses cruzeiros hoje em nada devem aos mais luxuosos hotéis do mundo.
NA ROTA DE SHACKLETON
Os cruzeiros de expedição à Antártica levam viajantes pelas mesmas rotas marítimas pelas quais passaram tantos exploradores - mas com a mais avançada tecnologia para garantir total segurança e bem-estar. Os navios mais novos já chegam inclusive com inovadores modelos de estabilizadores, muito mais avançados e robustos, capazes de manter a vida a bordo tranquila mesmo durante a travessia do estreito de Drake, considerado o mar mais agitado e imprevisível do mundo.
Para chegar e sair da Antártica por via marítima é inevitável atravessa-lo na ida e na volta, por pelo menos dois dias e meio em cada direção. Com sorte, navios de cruzeiro atravessam o chamado “Drake Lake”, com ondas baixas e pouco vento. Mas pode acontecer também o “Drake Shake”, com vento constante, temporais e ondas de até dez metros de altura, garantindo doses extras de adrenalina durante a aventura. Por precaução, medicamentos contra enjoo estão sempre disponíveis e, sob orientação médica, são geralmente recomendáveis por ali.
Democráticos, os cruzeiros de luxo de hoje à Antártica se abrem a quase todo tipo de passageiro; ainda que diversas armadoras, por questões de segurança, não levem crianças menores de 12 anos a bordo. E, sendo viagens tão ativas, focadas em aventura, boas condições físicas são desejáveis - sobretudo porque todos os embarques e desembarques acontecem com uso de botes infláveis que chegam geralmente a terrenos bastante irregulares.
É preciso ter em mente também que, por se tratar de uma viagem a um continente extremamente remoto e selvagem, estamos o tempo todo sujeitos às intempéries climáticas. Desembarques podem ser cancelados pelo mau tempo ou o bom tempo pode "virar" repentinamente no meio do passeio. A tripulação vai sempre tomar as medidas cabíveis para garantir total segurança dos passageiros.
Itinerários muito ativos incluem diferentes desembarques diários para caminhadas, trekking, observação de vida selvagem e incríveis passeios de bote por entre icebergs, pinguins, focas, baleias e uma infinidade de pássaros – sempre, é claro, com premiadas equipes de expedição acompanhando os hóspedes a cada passo da jornada. Com sorte, podemos chegar pertinho até das temidas focas-leopardo, os maiores e mais fascinantes predadores antárticos.
Diariamente acontecem até três saídas diferentes, que podem ser apenas tours contemplativos de natureza e vida selvagem ou excursões bastante ativas, com longas caminhadas sobre seixos, rochas ou neve ou mesmo passeios em caiaque no fim do mundo. As explorações externas chegam a antigas bases de pesquisa transformadas em museus que contam histórias dos primórdios do homem no continente antártico, se aproximam incrivelmente de glaciares imensos (como no imperdível Necko Harbour) e nos dão até a possibilidade de enviar um cartão postal do "correio do fim do mundo" da bela Port Lockroy, uma antiga base militar britânica da segunda guerra mundial hoje rodeada por mais de dois mil pinguins - uma das escalas mais emblemáticas dos cruzeiros pela região.
Também navegam tranquilamente pelo espetacular Gerlache Straight, um estreito canal entre montanhas nevadas e icebergs que cria espelhos hipnotizantes nas águas antárticas - considerado o ponto mais alto das viagens à região para muitos passageiros, com beleza realmente singular. Em algum momento da viagem também temos a chance única de fazer o mítico "polar plunge": um imperdível mergulho de segundos nas congelantes águas antárticas para renovar energias, despertando corpo e alma.
QUANTO MENOR, MELHOR
Embarcações pequenas e com capacidade para apenas poucos passageiros garantem serviço personalizado, embarques e desembarques rápidos e descomplicados em cada parada, e muito mais autonomia para chegar a lugares inacessíveis aos grandes navios. "Esse tipo de cruzeiro é uma das maiores tendências do Turismo de luxo", diz Simon Mayle, diretor de eventos da ILTM. "Iates e navios de pequeno porte nesse estilo reforçam as premissas de segurança e exclusividade, e oferecem uma maneira mais fácil e tranquila de viajar o mundo", conclui.
Com foco na exploração polar, a Swan Hellenic Cruises já inaugurou de 2021 pra cá três navios: SH Minerva, SH Vega e SH Diana. Os dois primeiros operam viagens para a Antártica sempre com uma máximo de 200 passageiros, sistema tudo incluído e a maioria das cabines com varanda. A Quark lançou o Ultramarine, com sistemas capazes de converter resíduos em energia, capacidade para apenas 199 passageiros e dois helicópteros bimotores.
A Scenic lançou logo antes da pandemia o inovador super iate Scenic Eclipse, que ganha agora sua embarcação gêmea, o Scenic Eclipse II, ambos focados nos cruzeiros à Antártica, com tudo incluído, menos de 200 passageiros a bordo e todas as cabines com mordomo e varanda.
Oferece redução de movimento de até 85% graças a potentes estabilizadores, 550 metros quadrados de spa, Whisky Bar com 135 rótulos diferentes da bebida, exclusivas camas king size com ajustes individuais para casa hóspede, dois helicópteros e submarino Worx da U-Boat.
A sempre precursora Silversea, com diferentes navios de pequeno porte fazendo a temporada Antártica, acaba de lançar o Silver Endeavour, considerado o mais moderno e luxuoso navio do mundo. Dedicado aos polos, tem 100% suítes com mordomo e luxuosas amenidades Bulgari e Ortigia, introduzindo no mercado uma nova classe de cruzeiros de expedição de luxo. Além de ser a única armadora a sair em direção à Antártica da cidade de Puerto Williams, no Chile (em vez de Ushuaia, na terra do fogo argentina), a Silversea inaugurou nesta temporada sua esperada "Ponte Antártica", que inclui voos ida e volta do sul do Chile diretamente à base chilena na Antártica para viajantes que não desejam fazer a travessia do Drake.
Essa reportagem é parte integrante da Revista PANROTAS, que circula na ILTM Latin America 2023.
A brisa gelada entrou devagarinho na cabine aquecida enquanto o serviço de quarto deixava meu café da manhã na mesinha da varanda. Bem agasalhada, era ali mesmo que eu começava, cedinho e extasiada, o meu dia: tomando o desjejum diante de impressionantes picos nevados e icebergs. Depois da longa e movimentada travessia do Drake, chegávamos, finalmente, à Antártica, em uma manhã ensolarada, de céu muito azul e o termômetro marcando 8 graus.
Uma hora depois, desembarcava do aconchegante SH Minerva, um dos novos navios de expedição da Swan Hellenic Cruises, em solo antártico, entre outros 99 passageiros tão animados quanto eu – preparados para muitas outras manhãs espetaculares pela frente, despertando cada dia em um ponto do continente mais ao sul do planeta.
Chegar ao “sétimo continente”, como os americanos gostam de dizer, seguindo os passos de Shackleton e tantos outros exploradores e aventureiros, é a viagem número um da bucket list de muita gente. O desejo de alcançar destinos míticos e remotos como a Antártica não é novidade; mas está cada vez mais em evidência – e mais acessível ao viajante de luxo contemporâneo, com novos navios lançados todos os anos, confirmando uma tendência em franco crescimento no setor.
Os cruzeiros de expedição à Antártica, uma das principais tendências do Turismo de luxo, se multiplicam em navios cada vez mais confortáveis e exclusivos para aventuras inesquecíveis ao continente gelado. Com beleza e emoção arrebatadoras a cada dia, a Antártica é difícil de rivalizar com qualquer outro destino do planeta. Distante das multidões – afinal, cada ponto de desembarque por ali só permite um máximo de 100 pessoas por vez – explorar a chamada "última fronteira" nunca foi tão viável e factível quanto hoje.
As antigas embarcações de pesquisa, por muito tempo as únicas a chegar por ali, hoje deram lugar a cada vez mais incríveis navios e iates de expedição que não param de evoluir nos quesitos conforto, tecnologia e, felizmente, também sustentabilidade – em viagens com experiências autênticas, intensas e exclusivas. A exclusividade de explorar alguns dos cantos mais remotos do planeta hoje não nos pede para abrir mão de serviços impecavelmente personalizados, luxuosas acomodações, gastronomia de alto padrão e belos spas. Com tripulações em número muitas vezes bastante similar à capacidade máxima de hóspedes, muitos desses cruzeiros hoje em nada devem aos mais luxuosos hotéis do mundo.
NA ROTA DE SHACKLETON
Os cruzeiros de expedição à Antártica levam viajantes pelas mesmas rotas marítimas pelas quais passaram tantos exploradores - mas com a mais avançada tecnologia para garantir total segurança e bem-estar. Os navios mais novos já chegam inclusive com inovadores modelos de estabilizadores, muito mais avançados e robustos, capazes de manter a vida a bordo tranquila mesmo durante a travessia do estreito de Drake, considerado o mar mais agitado e imprevisível do mundo.Para chegar e sair da Antártica por via marítima é inevitável atravessa-lo na ida e na volta, por pelo menos dois dias e meio em cada direção. Com sorte, navios de cruzeiro atravessam o chamado “Drake Lake”, com ondas baixas e pouco vento. Mas pode acontecer também o “Drake Shake”, com vento constante, temporais e ondas de até dez metros de altura, garantindo doses extras de adrenalina durante a aventura. Por precaução, medicamentos contra enjoo estão sempre disponíveis e, sob orientação médica, são geralmente recomendáveis por ali.
Mas, ainda que o clima do lado de fora às vezes não coopere, dentro dos navios e iates de expedição a boa mesa, o serviço constantemente personalizado e excelentes palestras com especialistas em biologia, geografia e vida selvagem garantem travessias suaves e extremamente prazerosas. Sempre com poucos passageiros a bordo, a interação entre hóspedes também costuma ser bastante interessante.Para os desembarques, viajantes são presenteados com providenciais parkas polares e recebem o empréstimo de botas galochas, garantindo que todo mundo esteja quentinho, seguro e confortável do lado de fora, seja qual for o clima. Em dias de pura aventura, imersos em cenários de muito branco, cinza e azuis, temos a oportunidade de fazer uma imersão completa no mais mítico continente do planeta - sem a necessidade dos esforços desbravadores de Shackleton e sua trupe e com direito a eventuais brindes com uísque, vinho quente ou espumante aqui e ali.
Democráticos, os cruzeiros de luxo de hoje à Antártica se abrem a quase todo tipo de passageiro; ainda que diversas armadoras, por questões de segurança, não levem crianças menores de 12 anos a bordo. E, sendo viagens tão ativas, focadas em aventura, boas condições físicas são desejáveis - sobretudo porque todos os embarques e desembarques acontecem com uso de botes infláveis que chegam geralmente a terrenos bastante irregulares.
É preciso ter em mente também que, por se tratar de uma viagem a um continente extremamente remoto e selvagem, estamos o tempo todo sujeitos às intempéries climáticas. Desembarques podem ser cancelados pelo mau tempo ou o bom tempo pode "virar" repentinamente no meio do passeio. A tripulação vai sempre tomar as medidas cabíveis para garantir total segurança dos passageiros.
Itinerários muito ativos incluem diferentes desembarques diários para caminhadas, trekking, observação de vida selvagem e incríveis passeios de bote por entre icebergs, pinguins, focas, baleias e uma infinidade de pássaros – sempre, é claro, com premiadas equipes de expedição acompanhando os hóspedes a cada passo da jornada. Com sorte, podemos chegar pertinho até das temidas focas-leopardo, os maiores e mais fascinantes predadores antárticos.
Diariamente acontecem até três saídas diferentes, que podem ser apenas tours contemplativos de natureza e vida selvagem ou excursões bastante ativas, com longas caminhadas sobre seixos, rochas ou neve ou mesmo passeios em caiaque no fim do mundo. As explorações externas chegam a antigas bases de pesquisa transformadas em museus que contam histórias dos primórdios do homem no continente antártico, se aproximam incrivelmente de glaciares imensos (como no imperdível Necko Harbour) e nos dão até a possibilidade de enviar um cartão postal do "correio do fim do mundo" da bela Port Lockroy, uma antiga base militar britânica da segunda guerra mundial hoje rodeada por mais de dois mil pinguins - uma das escalas mais emblemáticas dos cruzeiros pela região.
Também navegam tranquilamente pelo espetacular Gerlache Straight, um estreito canal entre montanhas nevadas e icebergs que cria espelhos hipnotizantes nas águas antárticas - considerado o ponto mais alto das viagens à região para muitos passageiros, com beleza realmente singular. Em algum momento da viagem também temos a chance única de fazer o mítico "polar plunge": um imperdível mergulho de segundos nas congelantes águas antárticas para renovar energias, despertando corpo e alma.
QUANTO MENOR, MELHOR
Embarcações pequenas e com capacidade para apenas poucos passageiros garantem serviço personalizado, embarques e desembarques rápidos e descomplicados em cada parada, e muito mais autonomia para chegar a lugares inacessíveis aos grandes navios. "Esse tipo de cruzeiro é uma das maiores tendências do Turismo de luxo", diz Simon Mayle, diretor de eventos da ILTM. "Iates e navios de pequeno porte nesse estilo reforçam as premissas de segurança e exclusividade, e oferecem uma maneira mais fácil e tranquila de viajar o mundo", conclui.Com foco na exploração polar, a Swan Hellenic Cruises já inaugurou de 2021 pra cá três navios: SH Minerva, SH Vega e SH Diana. Os dois primeiros operam viagens para a Antártica sempre com uma máximo de 200 passageiros, sistema tudo incluído e a maioria das cabines com varanda. A Quark lançou o Ultramarine, com sistemas capazes de converter resíduos em energia, capacidade para apenas 199 passageiros e dois helicópteros bimotores.
A Scenic lançou logo antes da pandemia o inovador super iate Scenic Eclipse, que ganha agora sua embarcação gêmea, o Scenic Eclipse II, ambos focados nos cruzeiros à Antártica, com tudo incluído, menos de 200 passageiros a bordo e todas as cabines com mordomo e varanda.
Oferece redução de movimento de até 85% graças a potentes estabilizadores, 550 metros quadrados de spa, Whisky Bar com 135 rótulos diferentes da bebida, exclusivas camas king size com ajustes individuais para casa hóspede, dois helicópteros e submarino Worx da U-Boat.
A sempre precursora Silversea, com diferentes navios de pequeno porte fazendo a temporada Antártica, acaba de lançar o Silver Endeavour, considerado o mais moderno e luxuoso navio do mundo. Dedicado aos polos, tem 100% suítes com mordomo e luxuosas amenidades Bulgari e Ortigia, introduzindo no mercado uma nova classe de cruzeiros de expedição de luxo. Além de ser a única armadora a sair em direção à Antártica da cidade de Puerto Williams, no Chile (em vez de Ushuaia, na terra do fogo argentina), a Silversea inaugurou nesta temporada sua esperada "Ponte Antártica", que inclui voos ida e volta do sul do Chile diretamente à base chilena na Antártica para viajantes que não desejam fazer a travessia do Drake.
Essa reportagem é parte integrante da Revista PANROTAS, que circula na ILTM Latin America 2023.