Rodrigo Vieira   |   11/05/2023 13:02
Atualizada em 11/05/2023 14:26

Agentes de viagens de luxo têm de cobrar por consultas, diz Simon Mayle

Para o especialista, consumidores de alto poder aquisitivo estão dispostos a investir em viagens


PANROTAS/Emerson Souza
Simon Mayle, diretor da ILTM Latin America
Simon Mayle, diretor da ILTM Latin America
A Virtuoso recomendou, e Simon Mayle assina embaixo. Agentes de viagens de luxo que não estão cobrando pelo orçamento, pelas horas de dedicação aplicadas na personalização do roteiro de cada um de seus clientes, estão desperdiçando tempo e oportunidade. Os consumidores de mais alto poder aquisitivo nunca estiveram tão dispostos a investir em viagens e, consequentemente, os agentes especializados neste segmento estão com o tempo concorrido demais para fazer aquela consultoria prévia sem cobrar nada. Quando o cliente fechar a compra, desconta-se o valor deste serviço na conta final, caso necessário.

“É uma prática que a Virtuoso está promovendo há muito tempo. Já começou a ser vista aqui no Brasil, onde estamos notando um crescimento dessa taxa, e é exatamente assim que queremos ver o trabalho de luxo no País. O serviço do consultor de viagens tem de ser valorizado como o de um contador pessoal, ou de um advogado, por exemplo. Cobra-se pelo tempo, pelo serviço de qualidade que eles entregam. A especialização é o que diferencia o consultor de luxo do agente de viagens generalista, e essa habilidade é digna de cobrança”, explica o diretor da ILTM Latin America, ILTM North America e Proud Experiences, Simon Mayle.

Ou seja, chega de leiloar o serviço de profissionais qualificados. E vale dizer que a mesma prática tem sido seguida por algumas operadoras de luxo para com os agentes de viagens clientes. E do lado dos agentes, o tempo é tão curto que os profissionais estão podendo escolher seus clientes e se esquivar dos que não estão dispostos a valorizar suas habilidades.

ASCENSÃO CONTÍNUA

O crescimento do Turismo de luxo no Brasil é contínuo. Aliás, não só aqui. Na maioria dos principais mercados emissores globais, a linha dos gastos com viagens mais sofisticadas segue apontada para cima, vertiginosamente em muitos deles. Isso mexe com o cenário e com os hábitos de um consumidor acostumado a pagar por mordomias.

“Por exemplo, nos destinos mais procurados da Itália, os hotéis de luxo estão completamente lotados. As agências de viagens estão provocando os clientes a olhar para outros destinos no país. Se o cliente fizer questão de ir à Itália e não conseguir lugar em Roma, Capri, Sicília e Florença, por que não oferecer Sardenha, que está lindíssima e conta com inaugurações hoteleiras ? A falta de opção pode ser ponto positivo para o consultor ao surpreender seu cliente. Afinal é papel dele saber escolher as alternativas”, afirma Simon Mayle.

CRUZEIROS DE EXPEDIÇÃO

“A Itália é apenas um exemplo para ilustrar algo que está acontecendo nos principais destinos de luxo. Não à toa estamos vendo a Islândia crescendo muito em demanda, se beneficiando dos cruzeiros de expedição, que estão explodindo. São pessoas buscando uma natureza menos descoberta, sem abrir mão do conforto. Recentemente o TTW Group mostrou o quanto esses cruzeiros podem ser viagem mais agradável, menos estressante às pessoas”, ilustra o especialista em Turismo de luxo.

ESG E BEM-ESTAR

Evitar o desperdício de alimentos e bebidas deve ser algo a ser considerado quando o tema é sustentabilidade na hotelaria de alto padrão, pois estima-se que cerca de um terço do alimento produzido para consumo humano é desperdiçado a cada ano, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).

“Já está claro que o viajante de alto padrão está disposto a pagar mais para fornecedores que sejam mais engajados em ESG e em opções saudáveis. Hotéis, por exemplo, têm de investir em uma experiência fluida de seus hóspedes seguindo os critérios sociais e ambientais. Recentemente, fiquei no Filha da Lua (em Pipa-RN), e todo o cardápio era sem glúten, com ingredientes locais. Nunca imaginei que pudesse ser tão gostoso, rotativo e dinâmico”, afirma Mayle, acrescentando também a tendência de bebidas refrescantes e saborosas a abstêmios.

Outra tendência apontada pelo diretor da ILTM Latin America no cenário da hotelaria é a mudança no panorama dos serviços. Ainda há carência de profissionais especializados e os hotéis aproveitaram a necessidade para se abrirem mais à comunidade. “Estamos vendo empreendimentos antes muito conservadores abrindo a mente sobre serviço e contratando funcionários com visual mais ousado do que o de costume, como barba, bigode e tatuagens. Também há mais abertura para pessoas trans se vestirem mais livremente. É uma tendência que vem mudando para um serviço mais moderno, mais contemporâneo. O status quo está caindo.”

ULTRALUXO, O JEITINHO BRASILEIRO

Quando questionado sobre peculiaridades do viajante brasileiro de luxo na maneira de viajar, Mayle reforça que ainda existe uma procura acima da média pelos produtos de ultraluxo. Redes como Aman, Rosewood, Dorchester Collection, destinos como St. Barths. Aqui é impressionante como o brasileiro procura mais esses produtos do que os chamados luxo de massa em comparação com a ILTM North America.

Isso se explica, de acordo com ele, pelo fato de o brasileiro estar mais acostumado com serviços de alto nível em sua própria casa do que no resto do mundo. “Empregada doméstica e faxineira semanal é algo que não se vê em todo lugar. Isso se traduz nas viagens: brasileiros buscam manter o nível de serviço em suas férias. Levam toda a família e querem concierge, motorista e não economizam em serviço. O brasileiro gasta no restaurante, nos bares, nas lojas... não poupa o bolso nas férias.”

Por fim, Simon Mayle menciona que o brasileiro não só viaja fora de época como faz mais paradas do que a média global em suas férias. Quando quer esquiar em Courchevel, essa família faz parada em Paris, em Londres ou em outra capital europeia, para ficar alguns dias.


Essa matéria é parte integrante da Revista PANROTAS, que circula na ILTM Latin America 2023.


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