Lufthansa revela desafios e investidas para liderar futuro sustentável do setor
Jonas Diederich, Senior Manager Corporate Responsibility Strategy do Grupo Lufthansa, esclareceu as ações
A sustentabilidade deixou de ser o futuro há muito tempo. Em algumas indústrias, não é só o presente, mas também já faz parte de ações desenvolvidas no passado. No setor aéreo, por exemplo, a sustentabilidade vem norteando o futuro do Grupo Lufthansa desde 1992, quando a empresa lançou seu primeiro relatório sobre o tema.
Em outras palavras, há 32 anos, a Lufthansa já pensava em sustentabilidade num momento em que boa parte do mundo nem sabia o que era isso. Hoje sua meta é reduzir em 50% a emissão de CO2 de suas operações até 2030 e zerar completamente até 2050. Mas como a Lufthansa vai fazer isso?
Aliás, quão grande é a responsabilidade de ser pioneira no assunto? Quais ações a Lufthansa prepara para o futuro a curto prazo? Como fazer os passageiros serem cada vez mais comprometidos com suas ações? E quão dificil é ser uma companhia aérea verdadeiramente sustentável?
Perguntas que foram devidamente esclarecidas por Jonas Diederich, Senior Manager Corporate Responsibility Strategy & Communications do Grupo Lufthansa, em entrevista exclusiva ao Portal PANROTAS. O executivo está no Brasil para o Lufthansa Group Master Class, evento que aborda ações para uma aviação mais sustentável.
Sua missão é desenvolver a estratégia para assuntos ambientais, sociais e de governança de todas as companhias aéreas que compõem o Grupo Lufthansa, o chamado ESG, com foco de conduzir a empresa para um futuro mais sustentável e com a meta de ser uma companhia emissão zero em 2050.
PORTAL PANROTAS - A Lufthansa tem um plano de sustentabilidade bem-sucedido desde a década de 1990. Como é ser pioneiro numa questão tão importante para o futuro do planeta?
JONAS DIEDERICH - Foi e é extremamente importante começar o mais cedo possível a pensar em sustentabilidade. Por que? Porque desde quando começamos, foi preciso testar muitos fatores, numa espécie de tentativa e erro, para que possamos de fato nos desenvolvermos nesta questão. E o Lufthansa Group tem uma grande empresa técnica que se chama Lufthansa Technik. É um provedor de MRO (manutenção, reparo e revisão).
Começamos a operar os primeiros voos já pensando em menores emissões de ruídos lá na década de 1960! E ao longo dos anos aprendemos muito com os fabricantes de aeronaves, que são nossos parceiros na indústria, além, claro, de todos os fornecedores de tecnologia. Desde então, o ritmo cresceu e hoje a colaboração com muitos parceiros da indústria é fundamental para nosso futuro
Um dos nossos projetos bem-sucedidos é o AeroSHARK, tecnologia inovadora inspirada na pele de tubarão, que utiliza milhões de escamas para reduzir a fricção da fuselagem e diminuir a emissão de CO2 enviada à atmosfera. Esse é o melhor exemplo para mostrar que se você realmente está interessado em fazer as coisas por conta própria, você tem que ter bons parceiros para desenvolvê-las e nos ajudar no caminho em direção ao futuro.
O AeroSHARK é uma película muito fina que colocamos em nossas aeronaves, inclusive aquelas que operam no Brasil. Com isso, podemos reduzir cerca de 1,1% da emissão de CO2 por voo. Isso representa 28 dias no ano sem nenhuma emissão em nossos voos. Então, parece tão pouco 1%, mas já é um resultado incrível
Uma das vantagens é que a Lufthansa Technik vendeu essa tecnologia para outras companhias aéreas. Então, o produto está no mercado para ajudar a indústria como um todo É o caso do Grupo Latam que aplicará essa tecnologia também em sua frota Boeing 777, logo depois da All Nippon Airways, Eva Air e TransaCoop.
PP - Como você vê o Grupo Lufthansa nos próximos 10 anos em termos de sustentabilidade?
JD - Será desafiador e isso não é nenhuma surpresa. Talvez em 10 anos tenhamos uma meta provisória, que não é segredo, sobre zerar nossas emissões líquidas até 2050. Temos uma meta baseada na ciência validada também em 2030. E para atingir esse objetivo, existem basicamente duas ou três alavancas.
Operação de novas aeronaves, a eficiência operacional e promover uma aviação sustentável em todos os fatores
Três pontos para reduzir a emissão de CO2
E tudo isso junto pode realmente ajudar na redução das emissões. No entanto, somos muito dependentes dos fabricantes para recebermos novas aeronaves. Dependemos também dos parceiros da indústria para que possamos trabalhar de forma mais eficiente. No entanto, sabemos que é extremamente ambicioso atingir estas metas dentro dos próximos seis (até 2030) ou dez anos.
E esta questão de sustentabilidade será desafiadora para todas as companhias aéreas em todo o mundo justamente porque dependemos de outras empresas na indústria. É o que ocorre quando falamos sobre o SAF (Combustível Sustentável da Aviação), que está no mercado global, mas disponível em pouca quantidade e muito mais caro que o combustível tradicional. No entanto, temos um plano sobre como atingir nossas metas.
PP - Poderíamos dizer que o Grupo Lufthansa está à frente das outras empresas em termos de sustentabilidade?
JD - Eu diria que temos a herança melhor situada. Quando começamos a falar de sustentabilidade, outras empresas ainda se questionavam sobre o que era isso. E acho que estamos realmente liderando por tudo que fazemos nestes últimos tempos. E isso mesmo na Europa, onde os assuntos ambientais estão mais desenvolvidos.
Já tínhamos respostas para as perguntas de hoje há 10 anos! É neste ponto, de se adiantar em relação ao futuro, que acho que temos uma liderança neste quesito. E isso vem de todo o Lufthansa Group, com suas diferentes unidades de negócios, mas não quer dizer nada! Ok, fomos bons no passado, mas não relaxamos. Agora, temos de encontrar novas orientações para que lideremos esta questão também no futuro.
PP - Qual é a parte mais difícil de ser uma companhia aérea sustentável?
JD - Se você quer ser uma transportadora sustentável, isso significa que você realmente quer reduzir drasticamente suas emissões, o que inclui a implantação de combustíveis de aviação sustentáveis. Porque, por mais que uma aeronave seja nova, ela precisa de combustível. E esse combustível tradicional, especialmente nos anos de 2040, 2050, precisará ser todo substituído por combustível de aviação sustentável.
Portanto, o mercado terá que aumentar drasticamente a produção de SAF para que você tenha isso disponível na outra ponta da cadeia. E este combustível precisa ser competitivo em relação a preços. Hoje, o combustível de aviação sustentável custa de três a cinco vezes o preço do combustível fóssil. É algo complicado.
E acho que todo mundo que dirige um carro iria repensar em seguir dirigindo caso o preço da gasolina fique cinco vezes mais caro, ou então teria outra alternativa. Mas, no nosso caso, não há outra alternativa, especialmente para longas distâncias. Esse é o desafio da indústria, o que significa que também é um desafio para nós.
PP - Como fazer com que os passageiros também se comprometam com ações sustentáveis? Eles já sabem o que está acontecendo? Como compartilhar essas informações os clientes?
JD - Essa é uma pergunta muito, muito boa, mas tem uma resposta complicada porque não existe um único cliente. Alguns passageiros já têm um amplo conhecimento em relação a questões ambientais, enquanto outros não. Além disso, ainda temos regulamentações, especialmente na Europa, que limitam o uso de marketing para propagarmos certas informações aos nossos clientes.
O que fazemos é sempre que oferecemos um produto a um cliente, damos opções do cliente voar de uma forma mais sustentável ou não. Então não é que nós realmente precificamos tudo como outras empresas têm feito, mas criamos uma oferta voluntária para que o passageiro se sinta voluntário nesta ajuda. E isso é super diferente.
E neste caso, as informações básicas precisam ser fáceis de entender, precisam ser atraentes e verdadeiras. Mas, de certa forma, estou convencido de que estamos num momento muito bom em relação ao que estamos realizando. E estamos sempre desenvolvendo isso passo a passo.
Hoje, proporcionamos ao passageiro a chance de voar de maneira sustentável ou não, pagando para neutralizar as operações e compensando a emissão de CO2 ou não. Mas pagar por compensar CO2 não é nada que você vê, que você sente, ou seja, não tem, digamos, um valor adicional ao passageiro.
Então o que realmente fazemos é dar um prêmio em milhas para aqueles que embarcam conosco nesta jornada sustentável. Então, sempre que um cliente opta por pagar para viajar de maneira sustentável, ele recebe a mesma quantia em milhas. E esta é realmente uma moeda que é super importante e valiosa, especialmente para aqueles que são viajantes frequentes
PP - Gostaria de mencionar algo que não foi abordado nesta entrevista?
JD - O Grupo Lufthansa será dependente da chamada compensação avançada de carbono para que não possamos reduzir todas as emissões de CO2 sozinhos. É algo muito crucial porque o mundo precisa disso para atingir o acordo climático de Paris. O que já fazemos com a SWISS, assim como para todo o Grupo Lufthansa, são os primeiros contratos com a empresa chamada Climeworks. Eles estão realmente filtrando CO2 da atmosfera.
Então, dessa sala, você poderia basicamente filtrar CO2. Se você tiver esse CO2, poderá levá-lo a outra temperatura e liquefazê-lo ou pressioná-lo sob a água, sob o solo, sob a terra, fazendo com que reaja com a terra. O que significa que o CO2 é meio que armazenado para sempre. Você tira o CO2 da atmosfera e o traz para baixo da terra.
Climeworks está filtrando CO2 da atmosfera
Mas isso vai acontecer a longo prazo, sempre baseado em tecnologia. Neste caso é preciso muita energia, então você precisa, digamos, da transição verde. Mas já estamos comprando as primeiras toneladas a partir do ano que vem e somos um dos maiores usuários de certificados de captura de carbono do ar.