Interamerican: conheça a história da empresa que faz 40 anos de Turismo
Ricardo Roman e Danielle Roman compartilham principais feitos da companhia em prol do setor
Em abril de 1974, Ricardo Roman foi procurado por agentes de viagens com a proposta de organizar, após 15 anos, o Congresso Abav. Quatro das maiores figuras da história do trade de São Paulo, Leonel Rossi Jr., Goiaci Alves Guimarães, Eduardo Nascimento e Walter Steurer, buscaram o argentino de família polonesa para saber de que maneira o seu Delphin Hotel Guarujá poderia ajudar a viabilizar a segunda edição do encontro, já que a entidade não tinha verba suficiente para promovê-lo.
"Leonel foi o primeiro agente de viagens que conheci no Brasil, seguido por Sylvio Ferraz. Pouco depois, conheci os outros empresários. Podíamos realizar o congresso, mas o que eu receberia em troca, se a Abav não tinha dinheiro? Eu queria fechar outros negócios," justifica Roman. Começava ali o entrosamento do então hoteleiro com o trade turístico. Era o embrião da Interamerican Network.
Com agentes de viagens de todas as regiões e a presença do presidente da Embratur da época, Paulo Protassio, o sucesso do congresso no Guarujá permitiu à Abav realizar uma terceira edição em Porto Alegre. Roman intermediou os estandes, obtendo a contrapartida desejada em um acordo com a Alcântara Machado, hoje parte da Reed Exhibitions.
"Eu não sabia exatamente o porquê, mas vi na indústria do Turismo uma oportunidade boa de me aprofundar em termos de negócios. Em princípio, foi com um escritório para promover o hotel", admite cheio de franqueza Ricardo Roman. Aliás, franqueza é o que não falta neste que é um dos mais longevos empresários do Turismo brasileiro. Ele sabe usar a sinceridade a seu favor, inclusive para descontrair, com boas risadas, quem está a sua volta.
Entre pequenas revelações da história do Turismo paulista, ele oferece um café "ainda que o daqui não esteja entre meus preferidos", sorrindo à reportagem da Revista PANROTAS em sua própria sala na República, centro de São Paulo, um mini memorial carregado de louros e decoração que fariam os mais saudosistas do Turismo se entreterem por boas horas.
O que se iniciou assumidamente sem grandes perspectivas se tornou uma das principais empresas brasileiras especializadas em marketing de destinos e empresas de Turismo na América Latina. Em 1978, a companhia aérea estadunidense Braniff deu a Roman a missão de ser sua GSA para todo litoral paulista.
"Interamerican ainda não existia. Era Delphin Hoteleira de Vendas. A Interamerican foi estabelecida em 1984", relembra Ricardo Roman. A empresa despertou, então, a atenção de redes hoteleiras como Renaissance, de outras companhias aéreas, como Cathay Pacific.
Pragmático, Ricardo Roman evita romantizar a história da Interamerican. Ele afirma que em vários momentos entrou para projetos sem fazer a menor ideia de onde aquilo poderia dar. Assim foi em Brasília, quando o Turismo da Austrália pediu para que a Interamerican fizesse uma apresentação do país da Oceania ao trade turístico. "Até hoje não falo bem inglês, mas o ministro australiano viu na gente algum talento para o negócio e se justificou, dizendo que o idioma não seria necessário, pois os turistas para os quais venderíamos falavam português", recorda, rindo.
Naquela época, Austrália não dava visto para turistas. Roman então procurou a Soletur, e a operadora, então uma das maiores do Brasil, se interessou em vender o país do outro lado do planeta. Acertou com a embaixada australiana que só os representaria se vistos fossem dados para quem comprasse pacote.
"Afinal, que sentido faria aquilo? Em princípio, o embaixador estava irredutível, mas o convencemos pelo volume de negócios que aquilo os traria. Essa conquista foi de um sucesso tremendo. Por isso que digo, fui fazendo as coisas no instinto, sem entender muito como funcionava aquele negócio. Tivemos sorte", afirma o empresário. Não se engane, sr. Roman, a boa sorte só acompanha o talento e a vontade de fazer as coisas darem certo, um combo que quem também ostenta é Danielle Clouzet Roman, sua filha. Para a sorte do pai.
Ricardo Roman, 90: “Meu maior orgulho, minha maior conquista, é ver o sucesso dos meus filhos na Interamerican e no Turismo”. A família Roman é um dos ícones de sucesso na indústria do Turismo: os três filhos abraçaram a indústria, souberam continuar o legado do pai e ao mesmo tempo expandir, diversificar e modernizar o que tinha de ser modernizado.
Pessoas que fizeram o Turismo brasileiro
Esse primeiro case da Austrália abriu as portas da Interamerican para outras contas de destinos. Boston, Massachusetts, Palm Beaches, St. Maarten, Las Vegas, Nova York... muitas cidades, estados e países com vocação turística colocaram a Interamerican como responsável pelos seus negócios no Brasil nesses 40 anos.
Danielle, há quatro décadas vivendo esse universo, é hoje CEO da companhia, e ao lado do pai relembra: “Os tempos eram diferentes. Era mais fácil fazer famtours, conseguíamos recursos, apoio das companhias aéreas e dos hotéis. Meu pai e os empresários da época, como os colegas de Abav e o sr. Guillermo Alcorta, viveram a melhor época do Turismo brasileiro. Fizeram o Turismo brasileiro.” Foi Danielle que trouxe à Interamerican a ideia de inserir a figura de um Relações Públicas.
O modelo de negócios começava a avançar, e os clientes, principalmente dos Estados Unidos, começaram a ter demandas separadas. Nesse começo, não existia a divisão Relações Públicas e Representação. Tito Silveira, da American Airlines, foi a primeira figura de RP da Interamerican, antes do Edvaldo Pereira Lima, o Ed, também da AA.
“PANROTAS é PANROTAS”
Por falar nos arquitetos do Turismo brasileiro, Ricardo e Danielle Roman apontam a PANROTAS como uma plataforma vital na trajetória da Interamerican e da própria indústria de Turismo no Brasil. As empresas combinam até mesmo nos laços afetivos entre os fundadores argentinos Ricardo Roman e Guillermo C. Alcorta, indo para relação existente entre os filhos, que é uma relação forte e independente da dos pais.
“A PANROTAS é a PANROTAS. É impossível dissociar o Turismo B2B e a editora”, afirma Danielle. “Me lembro do Guillermo no terceiro congresso da Abav, o de Porto Alegre. Começamos nossa amizade ali e tivemos afinidade desde o início, pelas nossas origens, pelas nossas empresas. Sempre nos ajudamos. Até hoje nos encontramos frequentemente”, completa Ricardo Roman.
PANROTAS e Interamerican já tiveram parcerias ao longo das 90 décadas somadas de Turismo, incluindo no Fórum PANROTAS deste ano, em que a agência fez o RP do evento para a mídia B2C. A PANROTAS, vale lembrar, celebra 50 anos neste 2024.
E o hotel?
“O Delphin era muito mão de vaca, não nos dava dinheiro”, satirizou respeitosamente o proprietário do hotel quando questionado se a Interamerican superou o complexo do Guarujá em termos de receita para a família. “O Delphin foi bom mesmo para abrir as portas para a Interamerican em outros países.
Em cinco ou seis anos a Interamerican já o superava em importância financeira”, completou Roman. Reconhecido entre argentinos e chilenos, o Delphin precisava de escritórios para ampliar sua presença nesses países. Abriu um em Buenos Aires, de onde tocava os negócios na Argentina e no Chile.
Começava a trajetória da Interamerican Network fora do Brasil. St Maarten comprou a ideia e atribuiu à Dani Roman a representação do lado holandês da ilha caribenha para o trade de Argentina e Chile. A expansão aconteceu na metade da década de 1990. A posterior demanda por Colômbia foi natural, dos próprios clientes, notando ascensão do mercado do país andino.
Os negócios fluíam bem, mas Dani Roman tratou de ficar atenta à evolução da própria indústria de Turismo, Marketing e Comunicação. Sentiu, no início dos anos 2010, a necessidade de estruturar mais a Interamerican Network. Descentralizou a operação internacional de Buenos Aires, abriu mais bases: Chile, Colômbia, México, Flórida (e em 2024 abriu um espaço no Peru), além de ter criado um departamento de Digital e Mídias Sociais.
“Estar em vários países foi importante. Sentimos que no decorrer dos anos somos mais procurados por sermos regionais. Para os clientes internacionais, é uma escolha estratégica. Hoje, 50% dos nossos clientes priorizam a Interamerican justamente pelo nosso alcance. Por não terceirizarmos nada, conseguimos entregar os negócios com mais eficiência.”
Boa coincidência
Afinal, o fundador da empresa nunca foi de se acomodar. Nascido na Argentina, o filho de cônsul polonês Ricardo Roman foi criado no Uruguai. Irrequieto, saiu com 17 anos e por conta própria escolheu o Brasil para se aventurar.
“O Turismo foi uma coincidência. O Brasil vivia uma inflação terrível e resolvemos nos aventurar em um negócio que acompanhasse a inflação. O Delphin era uma casa de hóspede, anexo da residência onde os Stefano recebiam seus convidados no Guarujá. O hotel começou com 17 apartamentos e hoje está dividido em Delphin Surf e Delphin Beach, com cerca de 100 apartamentos”, relembra o cidadão do Mercosul.
Aluna superou o professor
“Eu me apaixonei em um nível que não me via em outro lugar”, conta Dani Roman ao lembrar do início da Interamerican, depois de trabalhar no comercial do hotel. Seu pai assente. Para ele, a rápida escalada dos negócios de representação sobre os hoteleiros se deve fatalmente pelo talento das pessoas que fizeram parte da Interamerican. “Principalmente da Danielle”, reforça. “Sabe aquela história da aluna que supera o professor? Ela é essa aluna”, completa o professor Ricardo.
A CEO vê exagero na fala do pai, mas talvez ele tenha razão, pois, de fato, Danielle nunca deixou a casa, e mais do que isso, nunca escondeu o entusiasmo por lá ficar. "A Dani é a pessoa mais Relações Públicas que eu conheci", reforça uma ex-funcionária da Interamerican que hoje atua fora do Turismo. "Tem habilidades não só para marketing e publicidade, mas consegue ser boa comunicadora em todas as relações, em todos os negócios que eles têm na Interamerican. E a Interamerican tem pessoas, principalmente nas representações de trade, que atuam por lá há muitos anos. São fiéis aos Roman, por mérito da família”, completa a ex-RP e hoje advogada.
Conquistas
Nenhuma empresa sobrevive a 40 anos no Turismo brasileiro sem uma trajetória de histórias para contar. Entre as várias conquistas ao longo destas quatro décadas, Ricardo Roman e Danielle mencionam:
- Viabilização do visto australiano para brasileiros.
- Voo da Copa Airlines para St Maarten.
- Representante da Cathay Pacific por 30 anos.
- Representante do Turismo de Nova York, uma das contas mais concorridas do mundo, que está com a Interamerican há 17 anos.
- Las Vegas também é um case. A Interamerican trabalhou para tirar a imagem resumida a cassinos e jogos para algo mais amplo, como entretenimento, cultura, aventura, compras e eventos Foi um trabalho para toda América do Sul e América Central.
- Relações Públicas da Emirates Airline por dez anos.
- Atual Relações Públicas da Delta Air Lines em toda América Latina. "Um cliente maravilhoso para se trabalhar", diz Dani Roman.
- Nos anos 1990, conquistou a conta da Travel Ace, empresa de seguro viagem da qual a família se tornaria sócia, e posteriormente vendeu as ações para grupos estrangeiros. “Foi um bom negócio, graças à visão do sr. Ricardo Roman e do espírito livre da Interamerican de não ter medo de abraçar as oportunidades”, pondera Danielle. “Naquela época, seguro viagem não era algo difundido, era visto com desconfiança pelo consumidor, mas acreditamos que seria um produto que expandiria, como de fato aconteceu.”
- Anguilla e St. Maarten encarregaram a Interamerican de liderar o Memorando de Entendimento entre as três ilhas - Anguilla, St. Maarten e St. Martin - criado para impulsionar o número de visitantes da América do Sul. Assim, foi desenvolvido um projeto colaborativo pontual com foco em campanhas digitais e off-line.
- Capítulos da novela Totalmente Demais, da Rede Globo, gravados na Austrália, em uma das passagens do Turismo da Austrália no escritório da Interamerican.
- Anguilla, Choose Chicago, Equador, Jordânia, IPW e Small Luxury Hotels of the World também são ou foram clientes da empresa. Hoje, são mais de 15 contas e cerca de 50 funcionários.
- A Interamerican faz parte de alianças globais, sendo o braço da MMGY Global na América do Sul e da APG Airlines no Brasil.
- Escritório no Brasil e bases em mais 5 países das Américas.
Onde a ousadia levou
Estar sempre de olho nas tendências é fundamental, na visão de Danielle Roman. Se as novidades têm a ver com a Interamerican, elas serão adotadas. ”Nenhum de nós tem medo de ousar. Nem eu, nem meu pai, nem meu irmão, Ricardo Roman Jr., que não só apoia nos momentos de ousar como faz um trabalho excepcional para organizar a casa", reconhece a CEO.
"Ao ousar, erros acontecem. E aí recalculamos a rota. Essa cultura é incentivada na Interamerican. Se a equipe tem medo de errar, ela não sai do mesmo. E a Interamerican se cobra para entregar mais, pois entendemos que quem busca um trabalho comum não precisa de nós." Uma das viradas da Interamerican em seus 40 anos foi justamente quando a empresa entendeu a necessidade de ser mais do que GSA para atuar com comunicação, decisão de Dani Roman.
As mudanças de hoje incluem o recente lançamento de um departamento comercial de produtos auxiliares para operadoras e agências de viagens. A nova unidade de negócios já está comercializando produtos da APG Network, Blue Ribbon Bags, Rail Click e World of Wine (WOW), empresas parceiras da Interamerican.
"Como uma agência especializada em clientes do segmento de Turismo, a Interamerican Network conhece a fundo as melhores comodidades para viajantes e, agora, aposta na venda direta de serviços auxiliares para o trade. Nosso time de vendas conta com profissionais experientes e formados em diversos segmentos do Turismo, marcando a entrada da IN na venda direta de produtos e serviços", explica a gerente de Vendas do novo departamento comercial, Claudia Bischachin Silva. Em breve, em um futuro de médio e longo prazos, mais novidades certamente virão.
Essa matéria é parte integrante da Revista PANROTAS Guia de Operadoras 2024: