Beatrice Teizen   |   03/03/2023 12:14

ESG: saiba como implementar nos eventos, nas viagens e no amanhã

Esta matéria faz parte do Anuário PANROTAS de Viagens e Eventos Corporativos 2023

Getty Images/AleksandrVS
Esta matéria faz parte do Anuário PANROTAS de Viagens e Eventos Corporativos 2023
Esta matéria faz parte do Anuário PANROTAS de Viagens e Eventos Corporativos 2023
ESG. Três letras que, mais do que nunca, vêm impactando corporações, profissionais e uma série de aspectos nos mais variados setores. Em viagens e eventos corporativos não é diferente. Só no Brasil, o setor movimenta mais de R$ 11 bilhões por ano, portanto ter consciência de como se está viajando e de como estão sendo realizadas as convenções, feiras, encontros e reuniões é imprescindível nos dias atuais.

Ciente desta necessidade do mercado como um todo, a Alagev criou, em agosto de 2022, o Hub ESG, um espaço de encontros e relacionamentos entre os diferentes stakeholders, de compartilhamento de conhecimentos e informações. O objetivo principal é unir gestores de viagens e fornecedores que tenham em comum a prática do ESG em suas empresas, proporcionando um ambiente de co-criação para boas práticas de governança e sustentabilidade. É também fomentar, cada vez mais, o tema nesta indústria que cresce a cada ano.

“O ESG é um chamado para que os negócios compartilhem suas questões sociais, ambientais e de governança. Pesquisas realizadas na Suécia, Alemanha e outros países mostram que esse mindset de criar a conversão das atividades alinhando com os requisitos de ESG já acontecia lá em 2011. É um tema que, para alguns, é bastante novo e outros que já estão nesta jornada estão concretizando e entregando muito”, afirma a co-fundadora do Hub ESG, do Hub Mulher e CEO da Arbache Innovations, Ana Paula Arbache.

Divulgação
Ana Paula Arbache
Ana Paula Arbache
Segundo ela, a ONU fez um chamado em 2004 sobre o tema, mas que foi escutado apenas em 2019. “É uma oportunidade enorme, pois, depois de disrupção da pandemia, a pauta pode nascer com uma nova oportunidade para o renascimento de uma empresa, por exemplo. Se hoje é um tema da moda, daqui um tempo será mais um tema na gestão”, pontua. É importante ressaltar que há etapas, todo um ciclo de vida, até a agenda entrar na organização, criar maturidade, fazer parte da cultura e desdobrar em resultados, e o Brasil ainda está só conhecendo essa cultura. Neste nível inicial, há o fator ainda de que os consumidores brasileiros são sensíveis a preços – o que dificulta e atrasa a adoção destas práticas.

MAS E O ESG NAS VIAGENS E EVENTOS?

Existem muitos caminhos para se praticar os pilares do ESG nas viagens a negócios e eventos corporativos.

“Temos de começar a trabalhar com fornecedores que praticam ESG. Seja em eventos, viagens corporativas ou viagens de incentivo. Buscar empresas que criam brindes e doam uma parte do faturamento, companhias aéreas que compensam gás carbônico, buscar parceiros que atuam na comunidade onde será realizado o evento... Mas não existe nada pronto no mercado, não é algo que temos de fácil acesso, por isso temos de trabalhar. É um caminho longo, mas acho que o exemplo tem de partir dos players também, não só do cliente”, diz a conselheira do Hub Mulher e Casa Hunter e membro do Comitê do Grupo Mulheres do Brasil – Inclusão de Pessoa com Deficiência, Grace Cauzo.


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A executiva aponta ainda que é preciso haver todo um trabalho por parte da agência de quando fazer a comunicação da viagem ou evento colocar pílulas de ESG. Mostrar que em tal encontro ou convenção tantos litros de água foram economizados, contar que certo fornecedor usou um staff todo formado por profissionais locais, que o cachê de um palestrante foi doado para uma causa beneficente... São muitas as possibilidades, mas, novamente, é algo que precisa partir de toda a cadeia.

“Há também a questão de que a pandemia foi uma virada de chave. É realmente necessário realizar esta viagem? Se sim, quantas pessoas precisam ir? Não pode ser uma reunião virtual? As pessoas estão viajando menos e de maneira mais consciente, os clientes estão compensando carbono, e tudo isso é cobrado também diretamente dos fornecedores. É importante olhar a indústria como um todo, desde a saída da viagem da agência aos nossos fornecedores e clientes”, explica a coordenadora de Sustentabilidade para a BCD Brasil, Carina Bernardes.

PANROTAS / Emerson Souza
Carina Bernardes
Carina Bernardes
Trocar aéreo por ferroviário (mais comum em outros países), utilizar aplicativos para diminuir o uso de papel em eventos, apostar em refeições empratadas em vez de buffet para que não haja desperdício, procurar parceiros sustentáveis, ver com os hotéis preferenciais quais são as iniciativas de reciclagem de lixo... “São pequenas iniciativas que essa associação entre cliente, parceiro e fornecedor possibilitam”, completa Carina. A lista do que dá para fazer em ESG é longa.

COMO IMPLEMENTAR

Alguns obstáculos para se implementar as práticas ESG incluem problemas culturais e, principalmente, falta de acesso à informação. Não adianta somente uma parte da empresa saber o que são os pilares; é preciso que toda a companhia, desde quem cuida do lixo da copa, até o CEO, entenda o que precisa ser feito.

“Na minha concepção, falta muito essa parte de humanização na empresa. É tudo muito voltado ao resultado, em produzir, em bater metas, mas será que os colaboradores estão realmente bem? Estamos nos preocupando em dar como benefício consultas com psicólogo? O que pode ser feito para melhorar? É preciso dar o exemplo, fazer com que as pessoas tenham admiração para poder praticar”, exemplifica Grace Cauzo.

Por isso, uma das principais maneiras de fazer com que esta pauta se concretize dentro das corporações é por meio da conscientização. “Tem de haver educação, pedagogicamente, para as pessoas. Não adianta somente soltar um comunicado falando que a empresa não consumirá mais papel. Quando se tem funcionários conscientizados, começamos lenta - mente a colocar as práticas no dia a dia. E não pode ser algo muito drástico, senão não teremos aderência e conscientização”, ressalta Carina Bernardes.

Para Ana Paula Arbache, ESG é resultado e não pode ficar somente no discurso. É preciso haver indicadores, uma governança que saiba determinar prioridades, estratégias, riscos e oportunidades.

“E uma governança que coloque no relatório de ESG tudo que foi possível conseguir de resultado. Por isso a im - portância de o conselho de administração de uma companhia fazer o advocacy. Para eventos e viagens, ainda estamos navegando em temas primários. Precisamos entrar no assunto, criar essa aderência, essa evangelização. E é preciso haver um caminho mais fácil. Precisamos ter um conselho advogando a favor das práticas, que crie normas muito bem estabelecidas, indicadores, convênios com organismos internacionais, auditorias externas. É todo um dever de casa da governança que, se não for feito, não se sustenta”, afirma.

ESG NO FUTURO

Empresas que não investirem e não se preocuparem com os preceitos do ESG estarão, em um futuro breve, fadadas ao esquecimento e, quiçá, ao seu fim. Não tem mais como não pensar em sustentabilidade, em como contribuir para a sociedade, para o amanhã, e em como criar e sustentar relações de parceria e transparência. Virou obrigação. A próxima geração de consumidores está engajada, atenta em cada ação das empresas.

PANROTAS / Emerson Souza
Grace Cauzo
Grace Cauzo
“Se uma companhia não tiver sua agenda de ESG, ela estará fora, não fará parte do contexto, do mercado. Por isso é importante que as pessoas estudem sobre o assunto, que saibam os pilares. Entender que o mercado precisa ter essa visão de negócio e que quem não tiver ESG cravado, vai ficar para trás. O negócio veio para ficar e não vai mudar”, reforça Grace Cauzo.

Segundo Ana Paula Arbache, a questão da sensibilidade a preços, da cadeia viciada, de muitos consumidores ainda não saberem o que é ESG dificultam ainda. Mas a grande inteligência é fazer o que aquela empresa sabe fazer bem, mantendo a precificação e fazendo com os conceitos de ESG.

“Será um diferencial para as empresas que querem crescer, onde tem parcerias de compliance, que têm de entregar relatórios. Mas ainda haverá empresas que vão navegar sem nem saber o que é... Tudo isso depende do tamanho da sua estratégia, dos stakeholders, da cadeia limpa que a sua companhia fará parte”, diz.

“Acredito que, para as empresas, daqui um curto período de tempo, não vai existir isso de não ter ESG. Quem sabe não será uma regra olhar para essa diretriz para poder abrir uma empresa? Vejo que as corporações estão correndo contra o tempo porque realmente se importam, querem ter uma preocupação com meio ambiente, com o social, com leis. E entendo que esse universo da regulamentação em si também vai expandir cada vez mais”, finaliza Carina Bernardes.

ANUÁRIO CORPORATIVO

Esta matéria é parte integrante do Anuário PANROTAS de Viagens e Eventos Corporativos 2023, que foi distribuído no Lacte 18 e circula nesta semana. Confira a edição digital abaixo.


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