Artur Luiz Andrade   |   09/11/2015 16:55

A investida da Expedia para combater a Airbnb; entenda

Wouter Geerts, analista de pesquisa da Euromonitor International, em Londres, escreveu o artigo abaixo em que mostra o que está por trás (e pela frente, nos meses que seguem) da compra da Home Away pela Expedia

Wouter Geerts, analista de pesquisa da Euromonitor International, em Londres, escreveu o artigo abaixo em que mostra o que está por trás (e pela frente, nos meses que seguem) da compra da Home Away pela Expedia. Maior grupo de venda de viagens do mundo, a Expedia não apenas se distancia, em faturamento, de seu maior concorrente, o Grupo Priceline, como também se arma contra a possível entrada da Airbnb no mercado de venda de hotéis.

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Leia abaixo:

"No ano passado, a Euromonitor diversas vezes destacou a consolidação na indústria de hospedagem, e, depois das notícias de que a Hyatt e a Starwood estão em conversas avançadas para uma fusão, foi a vez da Expedia anunciar que concordou em comprar a Home away por US$ 3,9 bilhões. A Expedia este ano tem estado em um processo acelerado de aquisições, incluindo o Travelocity, por US$ 280 milhões, o Orbitz, por US$ 1,6 bilhão, e agora a Home Away. Outras marcas da Expedia incluem a Hotels.com, Hotwire.com e Trivago. A Home Away continuará a ser operada como entidade separada, mas a aquisição deve beneficiar ambas as empresas. Aqui vamos discutir os efeitos de curto e longo prazos dessa aquisição na Home Away, na Expedia e nos principais concorrentes.

EXPEDIA SE DISTANCIA DO GRUPO PRICELINE COM AQUISIÇÃO
Em 2014, a Expedia registrou o mais alto valor de vendas de qualquer companhia de viagens, US$ 50,4 bilhões, apesar de estar apenas um pouco à frente de seu maior concorrente, o Grupo Priceline. Esse último, com marcas como Priceline, Booking.com e Kayak, registrou vendas de US$ 50,3 bilhões em 2014. A adição da Home Away ao portfólio da Expedia irá resultar em um total de vendas de US$ 55,3 bilhões, e assim aumentar a liderança da Expedia sobre o Grupo Priceline, assegurando que a Expedia continue o maior player da indústria de viagens.

COLABORAÇÃO ANTERIOR ENTRE EXPEDIA E HOME AWAY LEVOU A NADA
A Home Away já havia feito uma parceria com a Expedia, em uma iniciativa piloto para listar dez mil propriedades de aluguel na OTA em 2013 e 115 mil em 2014, apesar de o acordo ter se tornado um projeto à parte para a Expedia, focada em suas negociações com a Travelocity e Orbitz. Um possível marco dentro da parceria veio no começo de agosto de 2015, quando a Expedia Alemanha incluiu propriedades da Fewo-direkt, a marca alemã da Home Away.

Isso possivelmente foi o resultado do anúncio da Home Away em junho de 2015 de que iria colaborar com o Kayak, o metabuscador pertencente ao Grupo Priceline, concorrente da Expedia. Durante a divulgação de resultados do segundo trimestre de 2015, o CEO da Home Away, Brian Sharples, disse que as propriedades para aluguel estariam no Kayak antes do fim do ano. Com a compra anunciada, é improvável que a parceria Home Away-Kayak continue, e possivelmente a Priceline terá de aumentar seu foco no mercado de aluguel nas férias por meio da Booking.com.

AQUISIÇÃO BENEFICIA AMBAS EMPRESAS CONTRA A AIRBNB
O interesse da Expedia na Home Away, no entanto, não está apenas baseada em vencer a concorrência com o Grupo Priceline. A aquisição é um claro indício de que tanto a Home Away, tida como maior concorrente da Airbnb, e a Expedia estão preocupadas com a ameaça da Airbnb sobre seus negócios. A Airbnb está dando passos largos para tornar os alugueis de imóveis nas férias um sucesso em sua plataforma – tradicionalmente servida pela Home Away – e há grandes indícios de que a Airbnb passará a oferecer quartos de hotel em breve, atingindo o foco principal da Expedia no segmento de acomodações. Com a Airbnb anunciando uma parceria com a Virgin America para começar a oferecer um produto diretamente ao consumidor, a empresa está dando sinais que quer competir com as OTAs, como a Expedia.

A Expedia sempre priorizou hotéis sobre casas de aluguel para férias tanto nos resultados de busca quanto em sua estratégia, apesar de sua parceria anterior com a Home Away, mas a aquisição sugere que a OTA está preparada para dar mais ênfase que antes nos alugueis. A jogada fortalece a posição da Expedia como uma empresa de reservas de viagens em um ano dinâmico para a indústria, que inclui as próprias atividades corporativas da Expedia, a expansão do Tripadvisor para o setor de reservas e os rumores de potenciais novos players, incluindo o Google.

A Home Away também havia anunciado sua intenção de mudar seu modelo de negócios. Até o fim de 2013 a empresa era unicamente baseada no modelo de assinatura. A Home Away cobrava dos donos das propriedades a serem alugadas uma taxa anual entre US$ 349 e US$ 999, mas não recebia qualquer ganho extra por reserva. Já seu competidor, a Airbnb, usa um modelo pague-por-reserva (PPB, em inglês), recebendo entre 6% e 12% do valor de cada reservas dos próprios hóspedes, e 3% dos anfitriões. Esse modelo se provou bem mais lucrativo, o que levou a Home Away a introduzir o sistema PPB no começo de 2014, com taxa de 10% a 20% paga pelos donos das casas de aluguel. A Home Away também anunciou que vai iniciar cobrança de 6% por reserva dos hóspedes, apesar de não ter informado detalhes.

O CEO da Home Away, Brian Sharples, disse, em comunicado, que a aquisição vai oferecer distribuição ampliada, tecnologia e a expertise da Expedia. Uma área específica em que a Home Away fica para trás da rival Airbnb é em seu sistema de reservas on-line. Mais cedo este ano, a Home Away disse que apenas 50% de suas propriedades podiam ser reservadas on-line, enquanto acordos precisavam ser feitos entre anfitriões e hóspedes para as demais propriedades. O suporte da Expedia colocará a Home Away em uma posição melhor para chegar a um portfólio completamente reservável on-line.

CHINA: FUTURO CAMPO DE BATALHA?

Devido à alta competição na China, a Expedia vendeu sua participação majoritária na eLong em maio deste ano, resultando em perdas operacionais que impactaram a performance financeira global da companhia. A região da Ásia/Pacífico é atualmente a que mais rapidamente cresce para os intermediários on-line, mas é uma região na qual a Expedia ainda precisa ganhar presença.

A Home Away, por outro lado, está entrando no mercado chinês por meio de um investimento minoritário na Tujia, uma das plataformas de maior sucesso na comercialização pessoa-pessoa. Tujia tem mais de 200 mil propriedades no portfólio e recebeu US$ 300 milhões de um fundo em julho deste ano. As propriedades da Home Away podem ser encontradas na Tujia para os turistas chineses buscando viagens no Exterior. Em uma entrevista com a Euromonitor, o co-fundador e membro do Board de Diretores da Home Away, Carl Shepherd, disse:

“Há tanto crescimento e competição no Mercado de aluguéis a curto prazo na China que nós tomamos a decisão estratégica de investir em um parceiro local forte que pode reagir rapidamente às mudanças de mercado locais. Meu dinheiro está sempre em empresas chinesas clones de estrangeiras porque é como o governo da China trabalha. O que colocamos no Tujia da homeway.com são casas que querem se conectar com os viajantes chineses, e então suas páginas são traduzidas para o mandarim. Tujia lida com isso e os viajantes chineses podem fazer negócios com o Tujia”.

Ao contrário da Airbnb, a Home Away fechou parceria com um player local de sucesso, o que, no momento, parece ser uma aposta segura e lucrativa. A presença da Home Away na China pode ser um novo caminho para a Expedia chegar a esse mercado ainda não desbravado. Enquanto o Grupo Priceline é um investidor minoritário na CTrip, a OTA chinesa de maior sucesso, e a Airbnb encontrou investidores chineses, a Expedia precisa da expansão no país, para não ficar atrás dos concorrentes. A Home Away pode ser esse portão de entrada.

Wouter Geerts, analista de pesquisa da Euromonitor International, em Londres"

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