Diego Verticchio   |   18/11/2014 14:07

Turismo não foi prioridade nas eleições, afirma consultor

“Tive a ligeira impressão que (o turismo) não fazia parte das prioridades e não merecia assim ser alvo de discussão e de questionamento”, afirma

O professor e consultor em Turismo, Bayard Boiteux, em artigo enviado à redação da PANROTAS nesta terça-feira, escreve sobre o interesse (ou desinteresse) dos candidatos à Presidência e ao Governo do Rio de Janeiro com o Turismo. “Tive a ligeira impressão que (o turismo) não fazia parte das prioridades e não merecia assim ser alvo de discussão e de questionamento”, afirma.

O professor propõe uma série de questionamentos sobre o futuro da atividade e pede que o governo incentive a conscientização turística nas escolas.

“O turismo passou completamente despercebido nos debates da eleição presidencial e do Governo do Estado do Rio. Tive a ligeira impressão que não fazia parte das prioridades e não merecia assim ser alvo de discussão e de questionamento. Tal fato mostra que ainda não há nem sequer um entendimento da importância econômica do setor por parte daqueles que nos governam. Embora a criação de um Ministério e de uma Secretaria de Estado sejam pontos importantes , o setor foi gerenciado por políticos que vislumbravam a reeleição nos últimos anos, excetuando nos últimos meses.

O Brasil vive de grandes planos nacionais de turismo que gastam dinheiro público e tempo, mas que pouco colaboram com o aumento de turistas estrangeiros, por exemplo, que não passa de 6 milhões e que não representa nem 1% de todos aqueles que viajam. Falta investimento e menos discurso e fóruns de participação coletiva. Minha grande vontade é que 2015 nasça com um Turismo fortalecido, embora esteja perdendo um pouco as esperanças. Vejo que o setor público é muito bom para contratar shows e fazer obras em estádios, mas muito deficiente para obras vitais necessárias.

Um dos primeiros pontos que merece uma análise mais profunda são as políticas de estruturação de produtos turísticos, que devem se basear em capacitação, infraestrutura, segurança e promoção. Cursos de idiomas que duram uma semana e que depois engrossam relatórios de prestação de contas não atingem nenhum objetivo palpável. Capacitar significa adequar mão de obra à prestação de serviço globalizada, buscando padrões de competitividade. É o serviço, um dos grandes diferenciais da sobrevivência dos prestadores de serviço. Não seria o caso do governo incentivar a conscientização turística nas escolas, programas de atendimento ao consumidor final e preparação das forças de segurança para o turismo? Um grande programa de capacitação demanda escolas técnicas preparadas com corpo docente oriundo do mercado laboral e verdadeiros laboratórios dentro das instituições. Não podemos formar no cuspe e giz, como tem ocorrido nos últimos programas. Fora as faculdades de Turismo que passam por uma situação de penúria, com cada vez menos alunos e menos interesse por salários em algumas áreas não atrativas. Não seria o momento de criar um conselho nacional de capacitação turística para centralizar atividades desenvolvidas em tantas áreas governamentais, que perdemos o controle.

A promoção também não conseguiu aumentar o numero de turistas e o discurso chapa branca que hoje temos turista de melhor qualidade não é a resposta que vem dos operadores de receptivo. O marketing tem que trabalhar o mercado nacional com mais ênfase e priorizar mercados prioritários, utilizando também nossos consulados e Embaixadas , no exterior, para informação e realização de workshops e participação em eventos. Não seria o caso de incluir na formação dos diplomatas uma matéria voltada ao turismo e ao marketing turístico? Seria uma formação complementar, que muito ajudaria a imagem do Brasil, pela alta qualidade e competência de nossos diplomatas.

Um fator decisivo para o sucesso turístico do Brasil é a sinalização turística através de um grande programa do governo federal. Não seria o caso de priorizar tal atividade, levando em consideração que quase 65% dos turistas que nos visitam, chegam aqui por conta própria? Poderiam iniciar com um case de sucesso tematizado num Estado brasileiro, como por exemplo a região do Vale do Café, no Rio de Janeiro, e partir para um programa nacional.

Acho que precisamos de um 2015 com vontade política, com pequenas providências, não pensando apenas em obras faraônicas de estádios sem serventia após a Copa ou aeroportos de primeira linha em cidades sem fluxo real de passageiros. Sonho com um Brasil turístico , de forma que tenhamos orgulho de nossa alegria, que tanto encanta o mundo, mas que carece de uma gestão racional e prioritária em nossas políticas públicas.

Bayard Do Coutto Boiteux é professor do curso e MBA em Turismo da UCAM, preside o Site Consultoria em Turismo e gerencia o setor de Turismo do Preservale

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