Como está Curitiba (PR) em meses de gripe A
Artigo de Alzira França Vital Brazil sobre os meses de gripe suína em Curitiba, no Paraná
ARTIGO
OS MESES DA GRIPE EM CURITIBA
Alzira Helena Vital Brazil é jornalista, diretora da Iam Representações, de Curitiba, e ex-editora da PANROTAS. E-mail: alzirahelena@iamrep.com.br
Julho e agosto estão se mostrando os meses mais complicados deste ano para o dia-a-dia dos curitibanos e também para quem visita a cidade. Antes de mais nada o inverno foi rigorosíssimo e choveu como nunca. Foram mais de três semanas literalmente debaixo d´água e de temperaturas geladas. Muita gente aqui duvidou de sua condição humana, questionando-se sobre seu parentesco com os batráqueos. Pior que isso são os guarda-chuvas que nunca abrem direito, que deixam as varetas de fora e que filtram mais água que peneira. Agora há uma semana temos a trégua, com o sol e temperaturas mais amenas no meio do dia.
Só que nesse interim veio o problema – este sério de verdade! – a Gripe A.
Não tenciono avaliar nada com olhar de especialista em saúde, que não sou. Só quero dar alguns pitacos como observadora contumaz, esta sim, que me considero do cotidiano. A rotina curitibana mudou muito em função da doença.
Cabe aqui ainda um parentêses, que está em minha cabeça, desde o instante em que anunciaram a pandemia. Valêncio Xavier, meu antigo professor de cinema na Faculdade de Comunicação, cineasta e escritor, foi o autor de “ O Mez da Grippe”, livro de contos, mistura de realidade e ficção, que mostra a vida deserta e hábitos radicalmente transformados, na provinciana Curitiba, nos tempos da gripe espanhola, no ano de 1918. Valêncio, já falecido, era paulista, mas se dizia curitibano de mais de 500 anos. Assim, podia, com toda propriedade, falar sobre este nosso cadinho e criticá-lo como bem lhe aprouvesse, pois o conhecia como muito poucos. Ele retratou bastante bem a questão da gripe, que mudou de tudo um pouco no jeito de ser dos que viviam naquela época, na capital paranaense. As pessoas deixaram de se cumprimentar com beijos e apertos de mão, temendo a contaminação. Não havia locais com aglomerações e a cidade tinha um ar fantasmagórico, especialmente nas noites daquele agosto do início do século passado. Não são raros os relatos de pessoas, atualmente, com mais de 50 anos, que se recordam de ouvir falar de que algum parente vítima da “hespanhola”, como era grafada a enfermidade, que matou gente por onde passasse. Penso aí, cá comigo, que pode ter sido essa gripe de então, que tenha contribuído para nos transformar nessa gente tímida, reservada, cheia de receios de se aproximar dos que vêm de fora… Quem sabe esse possa ter sido um dos ingredientes na composição da alma curitibana?
De lá para cá, a Curitiba de menos de 80 mil habitantes, cresceu muito, Hoje vivemos aqui mais de dois milhões de pessoas, só que nem por isto deixamos de ter os nossos cuidados. Mais de 90 anos passados da tal espanhola, nós nos vemos agora com receio da gripe A e com bons motivos. A cidade foi, em termos de Brasil, a que percentualmente maior número de óbidos registrou, em decorrência da doença.
As aulas foram paralisadas por duas semanas – em algumas escolas por três – em todos os níveis de ensino das redes pública e particular. Supermercados ficaram com aspecto estranho com caixas e atendentes usando máscaras de proteção e os recipientes de álcool gel foram espalhaddos por toda parte. Janelas dos ônibus, apesar do frio, passaram a estar sempre abertas, para evitar o contágio. Nos estabelecimentos bancários só está sendo permitida a entrada de dez pessoas por vez. O movimento dos shopping centers, segundo estimativa de alguns lojistas, terá caído em 70%. Bares e restaurantes têm estado muito vazios. Espetáculos teatrais e shows vêm sendo adiados. As missas e cultos religiosos estão atraindo pouca gente e os que lá vão não trocam cumprimentos e procuram ficar afastados uns dos outros, numa distância segura.
Curitiba não chegou a parar, mas se transformou demais, porque temos nos precavido bastante. Por sorte não houve pânico, apenas excesso de cautela. O alento vem agora com a previsão de que o tempo permanecerá bom, com temperaturas mais altas, o que, segundo especialistas, ajuda a diminuir o risco de contaminação. As aulas voltarão na semana que vem e, com elas, tudo deverá retormar seu ritmo quase normal.
Nunca se lavou tanto as mãos como agora o que, além de saudável é higiênico. Oxalá esse hábito perdure e fique como a única herança positiva, uma vez passada a Gripe A.
OS MESES DA GRIPE EM CURITIBA
Alzira Helena Vital Brazil é jornalista, diretora da Iam Representações, de Curitiba, e ex-editora da PANROTAS. E-mail: alzirahelena@iamrep.com.br
Julho e agosto estão se mostrando os meses mais complicados deste ano para o dia-a-dia dos curitibanos e também para quem visita a cidade. Antes de mais nada o inverno foi rigorosíssimo e choveu como nunca. Foram mais de três semanas literalmente debaixo d´água e de temperaturas geladas. Muita gente aqui duvidou de sua condição humana, questionando-se sobre seu parentesco com os batráqueos. Pior que isso são os guarda-chuvas que nunca abrem direito, que deixam as varetas de fora e que filtram mais água que peneira. Agora há uma semana temos a trégua, com o sol e temperaturas mais amenas no meio do dia.
Só que nesse interim veio o problema – este sério de verdade! – a Gripe A.
Não tenciono avaliar nada com olhar de especialista em saúde, que não sou. Só quero dar alguns pitacos como observadora contumaz, esta sim, que me considero do cotidiano. A rotina curitibana mudou muito em função da doença.
Cabe aqui ainda um parentêses, que está em minha cabeça, desde o instante em que anunciaram a pandemia. Valêncio Xavier, meu antigo professor de cinema na Faculdade de Comunicação, cineasta e escritor, foi o autor de “ O Mez da Grippe”, livro de contos, mistura de realidade e ficção, que mostra a vida deserta e hábitos radicalmente transformados, na provinciana Curitiba, nos tempos da gripe espanhola, no ano de 1918. Valêncio, já falecido, era paulista, mas se dizia curitibano de mais de 500 anos. Assim, podia, com toda propriedade, falar sobre este nosso cadinho e criticá-lo como bem lhe aprouvesse, pois o conhecia como muito poucos. Ele retratou bastante bem a questão da gripe, que mudou de tudo um pouco no jeito de ser dos que viviam naquela época, na capital paranaense. As pessoas deixaram de se cumprimentar com beijos e apertos de mão, temendo a contaminação. Não havia locais com aglomerações e a cidade tinha um ar fantasmagórico, especialmente nas noites daquele agosto do início do século passado. Não são raros os relatos de pessoas, atualmente, com mais de 50 anos, que se recordam de ouvir falar de que algum parente vítima da “hespanhola”, como era grafada a enfermidade, que matou gente por onde passasse. Penso aí, cá comigo, que pode ter sido essa gripe de então, que tenha contribuído para nos transformar nessa gente tímida, reservada, cheia de receios de se aproximar dos que vêm de fora… Quem sabe esse possa ter sido um dos ingredientes na composição da alma curitibana?
De lá para cá, a Curitiba de menos de 80 mil habitantes, cresceu muito, Hoje vivemos aqui mais de dois milhões de pessoas, só que nem por isto deixamos de ter os nossos cuidados. Mais de 90 anos passados da tal espanhola, nós nos vemos agora com receio da gripe A e com bons motivos. A cidade foi, em termos de Brasil, a que percentualmente maior número de óbidos registrou, em decorrência da doença.
As aulas foram paralisadas por duas semanas – em algumas escolas por três – em todos os níveis de ensino das redes pública e particular. Supermercados ficaram com aspecto estranho com caixas e atendentes usando máscaras de proteção e os recipientes de álcool gel foram espalhaddos por toda parte. Janelas dos ônibus, apesar do frio, passaram a estar sempre abertas, para evitar o contágio. Nos estabelecimentos bancários só está sendo permitida a entrada de dez pessoas por vez. O movimento dos shopping centers, segundo estimativa de alguns lojistas, terá caído em 70%. Bares e restaurantes têm estado muito vazios. Espetáculos teatrais e shows vêm sendo adiados. As missas e cultos religiosos estão atraindo pouca gente e os que lá vão não trocam cumprimentos e procuram ficar afastados uns dos outros, numa distância segura.
Curitiba não chegou a parar, mas se transformou demais, porque temos nos precavido bastante. Por sorte não houve pânico, apenas excesso de cautela. O alento vem agora com a previsão de que o tempo permanecerá bom, com temperaturas mais altas, o que, segundo especialistas, ajuda a diminuir o risco de contaminação. As aulas voltarão na semana que vem e, com elas, tudo deverá retormar seu ritmo quase normal.
Nunca se lavou tanto as mãos como agora o que, além de saudável é higiênico. Oxalá esse hábito perdure e fique como a única herança positiva, uma vez passada a Gripe A.