Estamos seguros? Otávio Furtado fala de Turismo LGBTQIA+
Jornalista especializado no segmento, Tavinhu escreveu artigo para edição especial da Revista PANROTAS
Artigo de Tavinhu Furtado*, escrito exclusivamente para a Revista PANROTAS - Edição Especial LGBTravel, disponível acima
O avanço do Turismo LGBTQIA+ nos últimos anos foi galgado com o trabalho junto ao trade turístico para demonstrar a importância do acolhimento dessa parte da população. Mas um dos maiores gargalos continua sendo a falta de segurança para pessoas queer em algumas partes do mundo.
Levantamento da Human Dignity Trust, organização britânica sem fins lucrativos que luta pela proteção dos direitos da comunidade, aponta que 64 países no mundo ainda criminalizam pessoas LGBTQIA+, dos quais 12 têm previsão legal de pena de morte relacionada ao tema. Se os continentes asiático e africano reúnem a maior parte dos Estados que têm legislação contrária à população queer, é importante destacar que lugares que eram, até então, considerados seguros estão apresentando retrocessos nos últimos anos.
Nos Estados Unidos, América Latina e Europa há uma onda de tentativas de retirada de direitos legais da comunidade LGBTQIA+. Além disso, o aumento do discurso LGBTfóbico faz com que a insegurança se torne realidade inclusive em países em que há proteção legal, como é o caso do Brasil.
Para se ter ideia, relatório deste ano da Agência da União Europeia para os Direitos Fundamentais (FRA) mostra que 14% dos entrevistados sofreram agressão física ou sexual por ser uma pessoa LGBTQIA+ (isso representa um aumento de três pontos percentuais em relação ao levantamento de 2019).
O impacto sobre o Turismo é direto. Pesquisa da IGLTA (Associação Internacional de Turismo LGBTQIA+) em parceria com o Airbnb (outubro 2023) mostra que sete entre cada dez viajantes da comunidade optam por destinos onde se sentem acolhidos. Nesse sentindo a legislação local protegendo a população LGBTQIA+ é primordial.
Sabemos que apenas a proteção da lei não é suficiente para garantir a segurança, mas é um passo importante para o acolhimento a população local, e por consequência do turista queer. Na contramão, quando o Estado é legalmente autorizado a impor suas ideias de orientação sexual ou identidade de gênero para a população, não há qualquer tipo de proteção para quem visita esses países.
O desafio é grande e por mais que a sensação de retrocesso seja desanimadora, é preciso continuar buscando não só preparar o trade turístico para receber o viajante LGBTQIA+, mas pressionar os governos para garantir a segurança dessa parte da população.
*Otávio Furtado é jornalista e consultor de Diversidade & Inclusão. Editor chefe do Maior Viagem, sócio da BeFree Mag e colunista da Veja Rio.