Da Redação   |   09/12/2021 12:04
Atualizada em 09/12/2021 12:42

Líder da Comissão de Turismo da OAB analisa potencial do Rio

Hamilton Vasconcellos traz um olhar para os diferenciais do Rio, incluindo a gastronomia e a cultura


PANROTAS / Marluce Balbino
Hamilton Vasconcellos, presidente da Comissão de Turismo da OAB-RJ
Hamilton Vasconcellos, presidente da Comissão de Turismo da OAB-RJ
Presidente da Comissão de Turismo da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ), Hamilton Vasconcellos analisou os atrativos do destino e o potencial turístico que o mesmo apresenta para além do mar, do sol, do Réveillon e do Carnaval. Vasconcellos traz um olhar voltado para os outros diferenciais do Rio, incluindo a gastronomia, a cultura, os esportes e os parques.

Confira o artigo na íntegra:

Indo além do mar e do sol

Para reverter os problemas decorrentes da sazonalidade na ocupação hoteleira do RJ, há anos, busca-se a implantação efetiva de um calendário de eventos. Entretanto, apesar da iniciativa ser uma excelente ideia e de grandes e respeitadas lideranças terem atuado para sua construção e continuidade, é fato que o Rio ainda não obteve êxito nesta empreitada e que o problema inicial permanece. Os impactos do cancelamento do Réveillon pela prefeitura exemplificam bem a questão. Assim, sem descartar a proposta do calendário, vale indagar: que outros caminhos existem?

Para o bem da análise é importante verificarmos primeiro as médias anuais de ocupação hoteleira, divulgadas pela ABIH-RJ, bem como, o fluxo mensal durante os anos. Também é fundamental que consideremos o crescimento da oferta de leitos, impulsionado pelo ciclo de grandes eventos (Jogos Pan-Americanos de 2007; Jornada Mundial da Juventude com a vinda do papa Francisco, em 2013; Copa do Mundo, em 2014 e Olimpíadas 2016). Deste modo, mais do que observar e comparar indicadores de ocupação, estaremos visualizando as tendências, visto que a confrontação simples de percentuais fica comprometida tanto pelo mencionado crescimento da oferta de leitos, bem como, pelo seu encolhimento após as Olimpíadas.

Quando observamos os resultados divulgados pela ABIH-RJ, saltam aos olhos os números referentes aos anos de 2010 a 2014. A ocupação média anual de ficou em 2010 - 73,75%, 2011 - 79,08%, 2012 - 76,95%, 2013 - 71,84%, 2014 -72,47%. Vale ressaltar que a expansão da oferta já estava consolidada. Seu crescimento ocorreu entre 2010 e 2013, através de incentivos do município. Ainda que uma análise detalhada fique comprometida, são significativos os números, considerando que o aumento na oferta de leitos já havia ocorrido. Também vale registrar que, no total, os incentivos fiscais do período, orientados para a realização das Olimpíadas 2016, impulsionaram um crescimento de 55% na oferta de leitos. Para efeito de registro, não de comparação, 2019 fechou com uma média anual de 63%, 2018 com 53,66%, 2017 com 52%, 2016 com 58% e 2015 com 66%.

Feito esse longo, porém, importante esclarecimento sobre como visualizar os resultados, já podemos abordar os indicadores mensais divulgados pela Associação. Neste ponto, verificamos, para o período de 2016 a 2019, que janeiro e fevereiro, são meses com boas taxas de ocupação, ficando um pouco acima ou abaixo de 70% (fev. de 2017 um pouco fora, 58%); setembro, outubro e dezembro são meses regulares, com indicadores acima de 50%, entretanto, nunca alcançando 70%. Já abril, maio, junho, julho e agosto são meses difíceis, com médias até abaixo de 50%. Em 2018, por exemplo, maio bateu 38%, junho 39% e julho 44%. Em 2017 agosto fechou com 47% pior resultado do período observado. Os meses de novembro e dezembro apresentam números melhores, acima de 50%, contudo, não alcançam 70%.

Entretanto, apesar da importância dos indicadores, como dissemos anteriormente, devemos olhar mais para o movimento do fluxo do que para os números. A média anual de 2016, por exemplo, ficou em 58%, que é um percentual abaixo do alcançado em 2019 e 2018 e acima de 2017. Contudo, o mês da olimpíada, agosto, bateu 76%, um patamar superior até ao do mês de referência, dos anos do “ciclo de ouro,” 2010 a 2014, ou da série anterior, 2001 a 2012. Só não ganha de agosto 2011 – (80,11%). A comparação, porém, é invalida. São períodos muito diferentes.

Assim, vendo apenas as tendências, verificamos o quanto o fluxo de turistas está relacionado ao verão Carioca, afunilado em dois meses, tendo como ponto de partida um grande evento, o Réveillon. Além dessa questão, existem, também, como variáveis de interferência no fluxo turístico, os feriados e grandes datas já consolidadas, como carnaval, impactando fevereiro ou março, ou ambos conforme o ano.

Deste modo, considerando que tentar alterar o fluxo de consumo por incentivos pontuais é o mesmo caminho do calendário de eventos, proposta que permanece válida, resta-nos buscar criar ou promover, atrativos permanentes para os períodos de baixa ocupação. Assim, que atrativos nestas condições já possuímos? Quais podemos remodelar? O que podemos criar, considerando as inúmeras possibilidades que nossa região possui?

Acredito que devemos trabalhar o nosso produto (RJ). É Fato que o Rio detém uma excelente carta de apresentação, contando com bons recursos naturais, um parque arquitetônico histórico reconhecido, uma mão de obra hoteleira de qualidade e a tradicional e sempre apontada positivamente nas pesquisas de satisfação, hospitalidade carioca e fluminense, infelizmente, falta algo.

Nestes termos, vejamos: podemos incentivar nosso circuito gastronômico? Podemos ter uma permanente culinária carioca e fluminense que aqueça o fluxo de visitas?

Podemos criar facilidades de compra para produtos específicos, gerando uma permanente motivação de visita? Criar um atrativo circuito de comércio?

Podemos inserir nosso circuito cultural dentro dos atrativos turísticos? Da mesma maneira, podemos explorar
melhor os atrativos esportivos?

Podemos criar ou promover melhor parques temáticos?

Bem, as possibilidades são diversas e minha resposta para todas as indagações é sim. Acho que tanto podemos como devemos. Quando foi necessária a expansão da oferta do número de leitos para o ciclo dos grandes eventos o poder público atuou com os devidos incentivos fiscais. A oferta cresceu 55%. Não é diferente agora. Precisamos
apenas ir além do mar e do sol, que estão sempre aí e não fomos nós que criamos, são um presente de Deus. A questão é: o que falta para seguirmos este caminho?


*Hamilton Vasconcellos é presidente da Comissão de Turismo da OAB-RJ

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