O Turismo não tem paz: análise das 3 notícias mais impactantes de 2022
Turismo começou ano tendo de resolver pepinos herdados de 2021
Mas gente, não conseguimos começar um novo ano em paz? O Turismo brasileiro iniciou 2022 com três pauladas na moleira, que só não derrubaram todo mundo porque estamos escolados com dois anos de pandemia e muitos tantos de luta pela valorização de nosso setor.
Vejamos.
1 - IRRF DOS INFERNOS
Depois de dois anos negociando com o governo, aproveitando a pandemia com fronteiras fechadas e, portanto, sem vendas internacionais, as associações de agenciamento de viagens (Abav, Braztoa e Clia Brasil à frente) foram surpreendidas no primeiro dia de 2022 com a notícia de que no último dia de 2021 o Ministério da Economia tirou agências e operadoras da MP do IRRF e deixou apenas o leasing de aviação (que, diga-se, está isentando por dois anos um imposto que nunca existiu no setor).
A facada nas costas foi sentida pelas entidades, que mobilizaram, protestaram e estão fazendo o que podem para convencer, de novo, o governo de que este imposto é indevido e do jeito que está causará demissões e fechamento de empresas no Turismo (e não é exagero, pois muitas empresas são especializadas em Estados Unidos, país que não tem acordo de bitributação com o Brasil e por isso ao fazer os pagamentos para fornecedores de lá, são 33% a mais no valor cobrado do cliente). Cliente esse que uma hora vai ver que é mais barato comprar em sites internacionais e gerar empregos nesses países.
A SITUAÇÃO: desesperadora. O Ministério do Turismo redigiu nova MP, enviou para o Ministério da Economia, mesmo sendo ano de eleição, pois há uma brecha por estarmos em pandemia.
CHANCES: pequenas, mas somos brasileiros e não desistimos nunca. Tudo depende do presidente Jair Bolsonaro (e do ministro Paulo Guedes).
ALTERNATIVAS: uma emenda na MP aprovada e articulação com o Congresso.
OU ENTÃO: fica para 2023, já no novo governo.
CONCLUSÃO: além de não ter paz, o Turismo não tem o respeito que merece. Para o CEO da CVC Corp, Leonel Andrade, o imposto é reflexo da falta de uma política de Estado para a indústria de Viagens e Turismo.
2 - ÔMICRON, POR QUÊ?
Otimistas com a vacinação (contra tudo e contra todos nós gostamos de vacina, queremos vacina, exigimos vacina), começamos o ano com as notícias do crescimento da nova variante. Mais contagiosa? Mais leve? Ainda preocupante e afastando funcionários de lojas, restaurantes, hotéis, agências de viagens e empresas aéreas. Latam e Azul foram as que mais cancelaram voos nesse começo de ano e a diminuição do tempo de quarentena para infectados sem sintoma pode ajudar à retomada do rumo desviado temporariamente.
A SITUAÇÃO: delicada, com voos podendo ser cancelados a qualquer momento, pois o resultado dos testes (que andam escassos) pode pipocar a qualquer instante nos celulares.
PROGNÓSTICO: a onda ômicron atingiu a aviação e o Turismo muito rapidamente. Espera-se um pico (nervoso) e uma estabilização a partir de fevereiro. Temos de conviver com o vírus e pode ser que algumas restrições voltem à cena. Já os protocolos continuam e já nos habituamos.
MAS E ENTÃO? então é mais tempo perdido, recursos despendidos e falta de tranquilidade para trabalhar e operar. Mas mesmo assim, empresas como Azul e Latam já estão voando mais que em janeiro de 2019. O Turismo voltou e, soluços à parte, vai continuar apostando na retomada e nas medidas de saúde e segurança.
Esta semana, a Anac autorizou que Azul, Gol e Latam voem com menos tripulantes até março de 2022, seguindo as normas de segurança que indicam, por exemplo, redução de passageiros em alguns casos.
CONCLUSÃO: estamos nos acostumando a viver com o vírus, mas queremos mesmo é que ele suma daqui.
3 - EMBARCA E DESEMBARCA
A temporada de cruzeiros marítimos foi interrompida pela pandemia em março de 2020 e só retornou em novembro passado, depois de muitas negociações, protocolos, checagens e um processo complexo e único na indústria do Turismo – nível hospital mesmo.
Não adiantou. A ômicron e a Anvisa colocaram água no chope da Clia Brasil e a temporada está suspensa, por decisão das companhias marítimas, até 4 de fevereiro. O objetivo é voltar com mais protocolos (testar todo mundo no porto antes de embarcar e testar tripulantes a cada dois dias) e garantir um final digno para essa temporada.
A SITUAÇÃO: a Anvisa já recomendou a suspensão definitiva (mais conhecida como cancelamento) de toda a temporada. Mas quem decide é o Ministério da Saúde.
CHANCES: tudo depende das negociações e do novo protocolo intensificado. A Anvisa anda se estranhando com o Executivo e isso pode enfraquecer sua opinião no caso. E as companhias estão comprometidas em tomar as medidas necessárias.
Pelo que percebemos virou um tema político, envolvendo Anvisa, o Executivo federal, os Estados e municípios e o Turismo. Em ano de eleição, qualquer deslize rouba votos.
O SUSTO: o aumento de casos a bordo no final do ano realmente assustou, mostrando uma brecha nos protocolos em relação à variante mais transmissível. O setor parou para analisar (e um navio funciona como um país com uma lupa sobre ele nesses casos, o que pode ajudar) e agora aguarda a evolução também da onda ômicron.
EXEMPLO DE FORA: nos Estados Unidos há muito mais casos que no Brasil (e muito mais não vacinados), com muitas mortes ainda ligadas à variante delta. O CDC (a Anvisa local) autorizou que os navios voltem a 100% de ocupação, mas que usem o bom senso para não atingir esse nível se não acharem seguro e que se voluntariem numa fase de transição.
CONCLUSÃO: tem que negociar bem com o governo (e os Estados e municípios), mostrando a vontade de intensificar os protocolos. Mas também rezar pode ajudar.
Versão atualizada de matéria publicada originalmente na Revista PANROTAS, que pode ser lida na íntegra abaixo:
Vejamos.
1 - IRRF DOS INFERNOS
Depois de dois anos negociando com o governo, aproveitando a pandemia com fronteiras fechadas e, portanto, sem vendas internacionais, as associações de agenciamento de viagens (Abav, Braztoa e Clia Brasil à frente) foram surpreendidas no primeiro dia de 2022 com a notícia de que no último dia de 2021 o Ministério da Economia tirou agências e operadoras da MP do IRRF e deixou apenas o leasing de aviação (que, diga-se, está isentando por dois anos um imposto que nunca existiu no setor).
A facada nas costas foi sentida pelas entidades, que mobilizaram, protestaram e estão fazendo o que podem para convencer, de novo, o governo de que este imposto é indevido e do jeito que está causará demissões e fechamento de empresas no Turismo (e não é exagero, pois muitas empresas são especializadas em Estados Unidos, país que não tem acordo de bitributação com o Brasil e por isso ao fazer os pagamentos para fornecedores de lá, são 33% a mais no valor cobrado do cliente). Cliente esse que uma hora vai ver que é mais barato comprar em sites internacionais e gerar empregos nesses países.
A SITUAÇÃO: desesperadora. O Ministério do Turismo redigiu nova MP, enviou para o Ministério da Economia, mesmo sendo ano de eleição, pois há uma brecha por estarmos em pandemia.
CHANCES: pequenas, mas somos brasileiros e não desistimos nunca. Tudo depende do presidente Jair Bolsonaro (e do ministro Paulo Guedes).
ALTERNATIVAS: uma emenda na MP aprovada e articulação com o Congresso.
OU ENTÃO: fica para 2023, já no novo governo.
CONCLUSÃO: além de não ter paz, o Turismo não tem o respeito que merece. Para o CEO da CVC Corp, Leonel Andrade, o imposto é reflexo da falta de uma política de Estado para a indústria de Viagens e Turismo.
2 - ÔMICRON, POR QUÊ?
Otimistas com a vacinação (contra tudo e contra todos nós gostamos de vacina, queremos vacina, exigimos vacina), começamos o ano com as notícias do crescimento da nova variante. Mais contagiosa? Mais leve? Ainda preocupante e afastando funcionários de lojas, restaurantes, hotéis, agências de viagens e empresas aéreas. Latam e Azul foram as que mais cancelaram voos nesse começo de ano e a diminuição do tempo de quarentena para infectados sem sintoma pode ajudar à retomada do rumo desviado temporariamente.
A SITUAÇÃO: delicada, com voos podendo ser cancelados a qualquer momento, pois o resultado dos testes (que andam escassos) pode pipocar a qualquer instante nos celulares.
PROGNÓSTICO: a onda ômicron atingiu a aviação e o Turismo muito rapidamente. Espera-se um pico (nervoso) e uma estabilização a partir de fevereiro. Temos de conviver com o vírus e pode ser que algumas restrições voltem à cena. Já os protocolos continuam e já nos habituamos.
MAS E ENTÃO? então é mais tempo perdido, recursos despendidos e falta de tranquilidade para trabalhar e operar. Mas mesmo assim, empresas como Azul e Latam já estão voando mais que em janeiro de 2019. O Turismo voltou e, soluços à parte, vai continuar apostando na retomada e nas medidas de saúde e segurança.
Esta semana, a Anac autorizou que Azul, Gol e Latam voem com menos tripulantes até março de 2022, seguindo as normas de segurança que indicam, por exemplo, redução de passageiros em alguns casos.
CONCLUSÃO: estamos nos acostumando a viver com o vírus, mas queremos mesmo é que ele suma daqui.
3 - EMBARCA E DESEMBARCA
A temporada de cruzeiros marítimos foi interrompida pela pandemia em março de 2020 e só retornou em novembro passado, depois de muitas negociações, protocolos, checagens e um processo complexo e único na indústria do Turismo – nível hospital mesmo.
Não adiantou. A ômicron e a Anvisa colocaram água no chope da Clia Brasil e a temporada está suspensa, por decisão das companhias marítimas, até 4 de fevereiro. O objetivo é voltar com mais protocolos (testar todo mundo no porto antes de embarcar e testar tripulantes a cada dois dias) e garantir um final digno para essa temporada.
A SITUAÇÃO: a Anvisa já recomendou a suspensão definitiva (mais conhecida como cancelamento) de toda a temporada. Mas quem decide é o Ministério da Saúde.
CHANCES: tudo depende das negociações e do novo protocolo intensificado. A Anvisa anda se estranhando com o Executivo e isso pode enfraquecer sua opinião no caso. E as companhias estão comprometidas em tomar as medidas necessárias.
Pelo que percebemos virou um tema político, envolvendo Anvisa, o Executivo federal, os Estados e municípios e o Turismo. Em ano de eleição, qualquer deslize rouba votos.
O SUSTO: o aumento de casos a bordo no final do ano realmente assustou, mostrando uma brecha nos protocolos em relação à variante mais transmissível. O setor parou para analisar (e um navio funciona como um país com uma lupa sobre ele nesses casos, o que pode ajudar) e agora aguarda a evolução também da onda ômicron.
EXEMPLO DE FORA: nos Estados Unidos há muito mais casos que no Brasil (e muito mais não vacinados), com muitas mortes ainda ligadas à variante delta. O CDC (a Anvisa local) autorizou que os navios voltem a 100% de ocupação, mas que usem o bom senso para não atingir esse nível se não acharem seguro e que se voluntariem numa fase de transição.
CONCLUSÃO: tem que negociar bem com o governo (e os Estados e municípios), mostrando a vontade de intensificar os protocolos. Mas também rezar pode ajudar.
Versão atualizada de matéria publicada originalmente na Revista PANROTAS, que pode ser lida na íntegra abaixo: