Beatriz Contelli   |   31/05/2021 14:22
Atualizada em 31/05/2021 14:28

Inadimplência tem primeiro aumento em oito meses, aponta CNC

A menor estabilidade de emprego é uma das explicações para 68% das famílias estarem com dívidas

O percentual de brasileiros endividados no País segue alcançando recordes históricos, aponta a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Em maio de 2021, esse número chegou a 68% do total de famílias, máxima da série histórica (iniciada em 2010), alta de 0,5 ponto percentual em relação a abril e de 1,5 ponto em comparação com maio do ano passado. O sexto aumento seguido no endividamento, desta vez, acompanhou também a primeira alta, em 8 meses, na inadimplência.

Desde agosto do ano passado, é a primeira vez que o percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso aumenta na passagem mensal, alcançando 24,3% em maio, mas ainda 0,8 ponto percentual abaixo do apurado no mesmo período de 2020. A parcela dos brasileiros que declararam que não terão condições de pagar contas ou dívidas e que permanecerão inadimplentes também aumentou para 10,5%, mas teve queda de 0,1 ponto em relação ao mesmo mês de 2020.
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A menor estabilidade de emprego é uma das explicações para 68% das famílias estarem com dívidas ou contas em atraso
A menor estabilidade de emprego é uma das explicações para 68% das famílias estarem com dívidas ou contas em atraso
Para o presidente da CNC, José Roberto Tadros, o orçamento das famílias vinha sendo minimamente preservado até aqui pela força do mercado de trabalho, porém essa realidade não tem se mantido ao longo da crise desencadeada pela pandemia, diante da percepção de uma menor estabilidade de emprego e de outros fatores econômicos, como a inflação elevada.

“Houve uma piora no orçamento das famílias em maio, com a alta da inadimplência, mas esse era um movimento esperado. A renda se mantém baixa, com fragilidades no mercado de trabalho, incluindo um menor impacto de benefícios assistenciais, caso do auxílio emergencial reduzido”, aponta Tadros.

FAMÍLIAS DE MAIOR E MENOR RENDA ACIRRARAM O ENDIVIDAMENTO
O endividamento por grupos de renda apresentou tendências semelhantes em maio. Para as famílias que ganham até 10 salários mínimos, o percentual das endividadas cresceu de 68,6% para 69% do total. Já para as famílias com renda acima de 10 salários mínimos, a proporção do endividamento teve incremento mais forte, de 63,1% para 64,2% neste mês, contra 61,3% em maio de 2020.

No que se refere à inadimplência, houve tendências diferentes entre as faixas. A proporção de famílias com contas ou dívidas em atraso na faixa de até 10 salários mínimos aumentou de 26,9% para 27,1% em maio. No grupo com renda superior a 10 salários mínimos, o percentual caiu de 12,3% em abril para 11,9% em maio - o segundo maior percentual para meses de maio, atrás apenas de 2016 (12,9%).

A proporção das famílias que se declararam muito endividadas aumentou para 14,6%, maior parcela desde agosto do ano passado. A comparação anual, no entanto, mostra redução de 1,4 ponto percentual no indicador. A economista da CNC Izis Ferreira, responsável pela pesquisa, relata que o endividamento pode continuar subindo, na medida em que incentiva pequenas iniciativas de empreendedorismo.

“O crédito pode funcionar para ajudar a recompor a renda, mas a mudança de trajetória na política monetária, com aumento de juros, deverá fazer com que as famílias adotem mais rigor em relação aos seus gastos. Cabe destacar, porém, que mesmo diante das adversidades, na comparação interanual os indicadores de inadimplência estão em patamares mais baixos”, informa.

DÍVIDA NO CARTÃO MANTÉM RECORDE
A proporção das famílias que utilizam o cartão de crédito como principal tipo de dívida manteve-se em 80,9% do total, recorde do indicador. Esse número aumentou entre as famílias de menor renda, mas diminuiu entre as de maior renda. Já os financiamentos de casa e carro ganharam espaço no endividamento dos dois grupos, em função dos juros ainda baixos.

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