Os maiores desafios do Turismo dos EUA: entrevista com CEO da US Travel
Vistos, competição internacional, tráfego aéreo e mercado corporativo são foco para Geoff Freeman
SAN ANTONIO - Responsável pelo lobby do Turismo dos Estados Unidos junto ao congresso norte-americano e associação que engloba as principais entidades da indústria no país, a US Travel vive um momento de conquistas para comemorar, mas também de muitos desafios para enfrentar. Presidente e CEO da instituição, Geoff Freeman conversou com o Portal PANROTAS durante o IPW 2023, que aconteceu na semana passada em San Antonio, Texas.
E a feira é justamente o motivo mais recente a ser comemorado. Principal evento de exposição do Turismo dos Estados Unidos para o mundo, o IPW retomou os níveis pré-pandemia mesmo sem a participação costumeiramente volumosa dos compradores chineses e japoneses. Mais de cinco mil profissionais de 60 países compareceram ao IPW texano. Mais de 30 empresas brasileiras embarcaram representantes entre os buyers.
Freeman também celebra o fim da exigência de comprovante de vacina para entrada nos Estados Unidos, a fervente demanda doméstica e a definitiva retomada depois dos tempos de crise pela covid-19. Brand USA, uma de suas entidades parceiras, equivalente à Embratur no Brasil, acredita que os Estados Unidos superarão os índices de 2019 até o fim de 2024, um ano antes do que especialistas preveem.
"Meu antecessor (Roger Dow) fez um excelente trabalho na construção da US Travel e a deixou muito forte, com o terreno pronto para um grande crescimento. A indústria está desempenhando muito bem no lazer, sobretudo no Lazer doméstico. O viajante americano não está só viajando como também está gastando muito mais em viagens do que gastava antes da pandemia", afirma Freeman, que antes de assumir a US Travel liderava associação de Bens de Consumo.
MICE E COMPETITIVIDADE COM EUROPA
Já no setor de reuniões, eventos, incentivos e viagens corporativas, o MICE, ainda há muito a ser feito para retomar os níveis pré-pandemia. "Temos que resolver esses problemas e vamos", prevê.Desafio ainda maior está na aceleração do processo de expedição de vistos em mercados emissores protagonistas para os Estados Unidos, como Brasil (527 dias de fila); Índia (647 dias) e México (406 dias). Geoff Freeman se preocupa com intensificação da competitividade dos destinos globais, com todo o marketing dos países europeus na disputa pelo visitante internacional, e sabe que muito precisa ser feito nessa questão.
"Desafiamos o Departamento de Estado a baixar a fila para no máximo 30 dias de espera em cada consulado dos Estados Unidos. Na reunião que tivemos aqui em San Antonio, eles demonstraram algum progresso, mas claramente não é o suficiente. Estrangeiros não irão aos Estados Unidos enquanto isso perdurar. Encorajamos a administração Biden para resolver esse problema que é tão sério e nos coloca em desvantagem", afirmou o presidente e CEO da US Travel Association.
RELAÇÃO COM WASHINGTON D.C.
Para isso, a US Travel precisa de apoio do governo. Quando questionado se esse apoio é existente, Freeman não conseguiu responder com muita convicção. "Às vezes", afirmou. "Talvez as pessoas pensavam que a pandemia despertaria os líderes do governo para entender o quanto o Turismo é importante sobre o que acontece quando a indústria para. Contudo, a crise sanitária se passou e, infelizmente, a mentalidade da maioria dos congressistas voltou para o que era antes, ou seja, esperando as viagens voltarem naturalmente, sem precisar de grandes esforços."Um dos papéis da US Travel consiste em mostrar que tem de haver trabalho, competitividade. "Tem países que não exigem visto de brasileiros, isso nos coloca em posição de inferioridade. Vamos continuar trabalhando, mas é claro que eles captaram a mensagem de que é constragedor o tempo de espera para tirar um visto em alguns mercados."
De fato, o Departamento de Estado norte-americano captou a mensagem e concorda que o tempo de espera para a emissão de visto no Brasil é "inaceitável", como contaram executivos para o Portal PANROTAS.
DESAFIOS AÉREOS
Outras tarefas importantes na agenda de Freeman, além da questão do visto e da competitividade internacional, são reduzir as filas na imigração do aeroporto na chegada dos estrangeiros e melhorar a experiência das viagens aéreas."Entregar uma experiência aérea em alto nível é um desafio enorme para os Estados Unidos, e isso afeta toda a indústria. É preciso ter capital para aprimorar a tecnologia aeroportuária e para contratar mais controladores do tráfego aéreo. Temos 200% menos profissionais nessa função do que tínhamos dez anos atrás. O desafio é enorme, pois o treino a eles é bem intenso, então demora muito para colocar essas pessoas na linha de frente. Estamos introduzindo drones para tentar avançar, mas ainda não é o suficiente."
Por fim, Freeman, que assumiu a liderança da US Travel em setembro do ano passado, ressalta o protagonismo do agente de viagens na cadeia produtiva. "É uma categoria indispensável. Em tempos de demanda explosiva como os atuais, ter especialistas como os agentes de viagens trabalhando pelo Turismo é um privilégio tanto no doméstico quanto no receptivo internacional. Entender um lugar como San Antonio, por exemplo, é bem mais descomplicado com a figura de um consultor", completa.
A PANROTAS viajou a convite da US Travel Association, voando United Airlines, protegida por seguro viagem GTA.