9 meses do visto mexicano: os impactos gerados e o que vem por aí
Principais destinos turísticos no país da América do Norte sentem a queda no número de brasileiros
3 de agosto de 2022: dia em que o México oficializou a obrigatoriedade do visto físico para os brasileiros, invalidando o visto eletrônico. A medida teve efeitos colaterais logo sentidos por agências de viagens, operadoras, hotéis, companhias aéreas, receptivos e outros elos da cadeia produtiva.
Viajantes sem o visto americano, que também é válido para entrar no México, tiveram de se virar para lidar com as consequências dessa decisão, inseridos em uma novela mexicana com final incerto. Alguns cancelaram viagem. O que pesa mais para o México? Perder milhares de turistas brasileiros ou não se ‘queimar’ diplomaticamente com os Estados Unidos (supõe-se que a exigência de visto é pedido dos norte-americanos)?
Fato é que hoje, 3 de maio de 2023, após nove meses da difícil gestação desse visto, o impacto turístico é claro: o Caribe mexicano registrou queda de 60% de visitantes brasileiros desde que a nova exigência entrou em vigor (o que, em cifras, representa uma perda de aproximadamente US$ 1 bilhão).
A informação foi divulgada pelo presidente da Associação de Hotéis de Cancun, Puerto Morelos e Isla Mujeres, Jesus Almaguer, durante cerimônia de oficialização do Conselho Hoteleiro do Caribe mexicano, que pretende fomentar ações junto ao governo federal para retomar os turistas perdidos.
“Estamos fazendo todo o possível para facilitar essa questão do visto e conscientizar as autoridades mexicanas de que o Turismo brasileiro representa empregos, renda e benefícios para o México”, comenta Almaguer.
Desde que o visto físico foi implementado, o Brasil deixou de ocupar, pela primeira vez, o ranking dos 10 principais emissores internacionais de turistas para o México e o mercado aéreo entre os dois países teve redução de 15,2% nos voos em janeiro passado, no comparado com o mesmo período de 2022, de acordo com dados da Agência Federal de Aviação Civil (AFAC) do México.
A chegada de passageiros ao destino deixou a tendência de alta desde agosto passado, mantendo-se em queda até dezembro. O fator de ocupação despencou mais de dez pontos percentuais, para 62,4% em dezembro, embora tenha recuperado para 72,4% em janeiro. E os impactos no Turismo não param por aí.
Receptivos tiveram que apostar no público de luxo
Com a implementação do visto mexicano, os receptivos locais tiveram de mudar sua estratégia e apostar em públicos específicos para sobreviver.
“De agosto do ano passado a janeiro deste ano, tivemos queda de 60% no número de clientes brasileiros, e em março, que já é um mês de baixa, a queda chegou a 80%”, conta a diretora do receptivo AT Travel, Lilian Zanon, que também é cônsul honorária do Brasil em Cancun.
Ela relata que o receptivo teve de reduzir sua equipe e passou a focar em clientes de outros destinos da América Latina, além do público de luxo. “Temos grande apoio dos operadores e agentes de viagens. Há muita pré-venda para o público AA por meio de agências de luxo, inclusive para passageiros que têm o visto dos EUA, então conseguimos atingir um tíquete mais alto, o que nos dá condições de sobrevivência”, conta Lilian.
A estratégia tem sido a mesma adotada pela empresa de representação DGX International Travel. “Temos como clientes dois produtos de luxo e alto luxo, e o público que visita os hotéis Xcaret e Los Cabos costuma ter visto americano ou passaporte de outras nacionalidades. Estamos tendo apoio das operadoras para focar os esforços promocionais nesse público”, conta a diretora executiva e cofundadora da DGX International Travel, Diana Pomar.
“Ajustamos nossos planos. Estávamos com voos de temporada diretos Guarulhos-Cancun e tínhamos planos de torná-los voos regulares. Esse projeto está em stand by”, conta a country manager Brazil, Peru & Bolivia da Aeromexico, Bruna Freitas.
Para mitigar o impacto, a companhia aérea reduziu a oferta nos voos Guarulhos-México, passando do Boeing 787-9 com 274 lugares para a versão menor, o DreamLiner 787-8 com 243 lugares (redução de 31 assentos por voo). “Saímos de um fator de ocupação de 93% para 75%. E seguimos com sete voos semanais”, conta Bruna.
Os impactos também foram sentidos pela Copa Airlines, que passou a oferecer isenção de penalidade para reitineração do bilhete. “Fizemos isso para não penalizar passageiros que já tinham o bilhete emitido. Por exemplo, o passageiro que ia de São Paulo a Cancun poderia passar para Punta Cana pagando apenas a diferença de tarifa”, conta o gerente de Vendas de São Paulo da Copa Airlines, Raphael de Lucca. “O que ouvimos do mercado hoje é que o México está na mão de quem pede por ele, não há oferta proativa do agente para o passageiro."
“Houve aumento nas buscas por outros destinos, como Punta Cana, St. Martin, Curaçao e Aruba, mas nenhum deles cresceu com o mesmo volume que Cancun tinha”, complementa a gerente de Vendas do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Manaus e Porto Alegre da Copa Airlines, Monica Afonso.
“O próprio governo do México divulgou um alerta para não comprar viagens sem ter o visto. Não há como entrar em contradição com isso. Não sentimos segurança de oferecer o destino porque sabemos que o processo para obter o visto no consulado não é tranquilo”, comenta o diretor da LoveTrips Viagens, Marcelo Beltrame (eleito um dos Melhores do Turismo PANROTAS 2022)
Mesmo assim, a agência continua oferecendo o México para seus passageiros. “Só que 99% deles desistem do destino ao saberem da questão do visto”, conta Beltrame. Isso fez com que ele tivesse que remanejar seis casamentos que aconteceriam em Cancun para Punta Cana no ano passado. No Carnaval deste ano, houve um caso de noivos que fecharam em Cancun um pacote para 80 convidados e receberam 40, porque muitos não conseguiram o visto ou desistiram.
O mesmo acontece com os clientes da agência Kemp Wedding. “Mais de 50% dos casais optaram por trocar o México por Punta Cana, Curaçao e Aruba. As pessoas estão com medo, porque é uma viagem cara, e se não tiverem a garantia de que poderão viajar, preferem ir para outro lugar”, destaca o diretor da agência, Thiago de Paula.
“Os agentes não podem esquecer que quem tem visto dos EUA, Canadá, Espaço Schengen, Japão e Reino Unido pode entrar no México tranquilamente”, lembra a diretora de Vendas da RCD Hotels no Brasil, Carla Cecchele.
“Começamos a fazer campanhas para que as agências não tenham medo de oferecer México como destino para os passageiros que tenham esses outros tipos de visto válidos. Falta informação, as agências estão com medo de sugerir o México como destino por insegurança”, complementa Carollina Abud, country sales senior manager do Palladium Hotel Group, que registrou uma queda nas vendas em torno 60% em todos os hotéis do México.
A Inclusive Collection, part of World of Hyatt, por sua vez, acredita que o desejo de visitar o México permanece alto entre os brasileiros. “Nossas equipes comerciais têm fornecido suporte e treinamento para consultores de viagens e distribuidores terceirizados a fim de facilitar o processo de aquisição de vistos”, destaca o diretor de Vendas América do Sul da Inclusive Collection, Alexander Ruiz.
Afinal, como afirma o diretor do B2B da CVC Corp, Rodrigo Sienra, ainda há muito espaço para vender México. “É um destino incrível que continua sendo atrativo. Estamos muito interessados em ajudar o agente a fazer mais negócios por meio de treinamentos e material de suporte, para que ele possa apresentar alternativas ao passageiro”, comenta.
O mesmo faz a Orinter, que viu uma queda de 70% na procura de Cancun. “Das viagens que já haviam sido comercializadas para Cancun, grande parte foi alterada para destinos como Punta Cana. Os parceiros de redes hoteleiras e companhias aéreas se solidarizaram e nos apoiaram nessas alterações”, conta o diretor comercial da operadora, Roberto Sanches.
Outros destinos caribenhos também estão fortes na Diversa Turismo, que nos dois primeiros meses deste ano já alcançou 50% das vendas de Punta Cana do que vendeu ano passado. “É um destino que vem em alta para 2023”, frisa a diretora de Produtos e Operações da Diversa, Adriana Fredericce.
“Estamos fomentando também a venda conjugada do Caribe mexicano com outros países, como os Estados Unidos, por exemplo, aproveitando a boa conectividade da Copa Airlines entre ambas as regiões. O passageiro fica cinco ou seis noites em Cancun e depois faz uma extensão para Orlando e outros destinos nos EUA”, conta Adriana.
A ViagensPromo também viu um crescimento notável nas vendas de Punta Cana e destinos como Cartagena, Curaçao e Aruba, mas continua apostando em Cancun. “Temos bloqueio para Cancun no Réveillon e continuamos apostando no destino”, conta o sócio diretor da operadora, Renato Alves. No segundo semestre de 2022, A ViagensPromo tinha um fretamento direto para Cancun assinado com a Latam, mas cancelou a venda do produto, devido ao visto.
Carla Cecchele, por sua vez, conta que a RCD tem uma base de 70% a 80% das vendas voltadas a Punta Cana e restante fica para o México. “Houve redução nas vendas de México, mas os nossos hotéis, por serem tíquete médio alto, contem com a possibilidade de os hóspedes terem visto americano, então as vendas não zeraram”.
“A imposição do visto sem ter uma política organizada por parte do consulado ajudou a causar esse problema no mercado. Muitos outros destinos ainda exigem vistos, mas eles têm política de emissão, estrutura, comunicação clara com o mercado, não existe um problema. Além disso, o consulado não tinha estrutura para atender a demanda que já havia sido comercializada”, destaca Roberto Sanches, diretor comercial da Orinter.
“O passageiro que tem intenção de imigrar é diferente daquele que compra um hotel de sete a dez noites de alto padrão no Caribe. Para as operadoras que comercializam pacotes de lazer, o índice de imigração beira a zero, o propósito das viagens é puramente lazer, então acredito que deveria haver uma distinção dos canais de venda e não colocar todo o mundo dentro de uma mesma cesta”, comenta Sanches.
“A gente sente que o interesse no México existe, as agências ainda apostam no destino, mas o consulado mexicano não conseguiu se estruturar e há dificuldade em conseguir agendamento. A questão é que ninguém acha ruim o México exigir visto, a gente também tem que exigir o visto de outros países. O problema é que não há estrutura para fazer esse visto, o consulado não dá suporte. O Brasil inteiro tem dois consulados e uma embaixada, é pouco”, afirma a diretora de Vendas da RCD Hotels no Brasil, Carla Cecchele.
O Consulado mantém comunicação permanente com agências de viagens, operadoras de turismo, companhias aéreas e meios de comunicação. Muitas informações foram divulgadas e várias reuniões foram realizadas com agências para explicar a questão do visto e as exigências. Felizmente, a indústria entendeu a situação, embora seja inegável que houve um impacto sobre um certo tipo de turismo brasileiro no México.
Nós sabemos que há muitas pessoas querendo viajar e em vez de abrir agenda para datas muito distantes, que provavelmente vão se esgotar muito rápido, abrimos a agenda a cada semana com uma distância curta de uma semana a um mês, aproximadamente. Por exemplo, na quinta-feira, 27 de abril, abrimos agenda para a semana de 29 de maio a 2 de junho. Somos muito transparentes com as publicações das datas para agendamentos, qualquer pessoa pode nos seguir nas redes sociais para saber quando elas estarão disponíveis. As vagas não são liberadas em outros momentos. A única página para realizar o agendamento é através do portal citas.sre.gob.mx
Adicionalmente, recebemos muitas solicitações para viagens de emergência por motivos médicos, familiares, de estudos, trabalho, etc., que tentamos atender com as vagas que ficam disponíveis a cada semana devido a alguns cancelamentos.
Sabemos como é difícil conseguir agendar, mas isso se dá pela alta demanda. Todas as vezes que abrimos agenda, as vagas se acabam em poucos minutos. A recomendação para as pessoas que desejam solicitar é tentar às quintas-feiras à tarde, que é quando abrem as vagas. Mesmo assim, recomendamos realizar o cadastro no portal com antecedência e ter todas as informações em mãos para poder realizar o agendamento com êxito. Quando o sistema não permite continuar o processo de agendamento não é por um erro. Realmente significa que não existe disponibilidade no momento, ou seja, todas as vagas foram preenchidas e recomenda-se esperar a próxima semana.
Desde que começaram a exigir visto para os cidadãos brasileiros, o Consulado aumentou a quantidade de vagas e aumentou os esforços para atender mais pessoas, analisar seus documentos e conseguir emitir os vistos necessários. Aumentamos o número de funcionários e de equipamentos de informática, mas o atraso provocado pela pandemia ainda continua. Esperamos que na segunda metade deste ano seja mais fácil conseguir agendar e que mais pessoas possam viajar.
Mas ao que tudo indica, a decisão do retorno do visto eletrônico depende do que será debatido em uma reunião entre o presidente Lula e o presidente do México, Andrés Manuel López.
“Recentemente tive uma call com a embaixadora do México e na reunião foi revelado que há o interesse do governo mexicano para tratar desse assunto com o governo brasileiro no segundo semestre deste ano”, conta a gerente de Vendas do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Manaus e Porto Alegre da Copa Airlines, Monica Afonso.
“De fato, já há uma conversa entre ministros de relações exteriores, mas um encontro entre presidentes deve definir os próximos acontecimentos. Sabemos que há uma solicitação forte por uma visita do Lula por parte do presidente do México e o diálogo com o governo atual está mais favorável do que com o governo anterior”, conclui a diretora do receptivo AT Travel, Lilian Zanon.
Viajantes sem o visto americano, que também é válido para entrar no México, tiveram de se virar para lidar com as consequências dessa decisão, inseridos em uma novela mexicana com final incerto. Alguns cancelaram viagem. O que pesa mais para o México? Perder milhares de turistas brasileiros ou não se ‘queimar’ diplomaticamente com os Estados Unidos (supõe-se que a exigência de visto é pedido dos norte-americanos)?
Fato é que hoje, 3 de maio de 2023, após nove meses da difícil gestação desse visto, o impacto turístico é claro: o Caribe mexicano registrou queda de 60% de visitantes brasileiros desde que a nova exigência entrou em vigor (o que, em cifras, representa uma perda de aproximadamente US$ 1 bilhão).
A informação foi divulgada pelo presidente da Associação de Hotéis de Cancun, Puerto Morelos e Isla Mujeres, Jesus Almaguer, durante cerimônia de oficialização do Conselho Hoteleiro do Caribe mexicano, que pretende fomentar ações junto ao governo federal para retomar os turistas perdidos.
“Estamos fazendo todo o possível para facilitar essa questão do visto e conscientizar as autoridades mexicanas de que o Turismo brasileiro representa empregos, renda e benefícios para o México”, comenta Almaguer.
Desde que o visto físico foi implementado, o Brasil deixou de ocupar, pela primeira vez, o ranking dos 10 principais emissores internacionais de turistas para o México e o mercado aéreo entre os dois países teve redução de 15,2% nos voos em janeiro passado, no comparado com o mesmo período de 2022, de acordo com dados da Agência Federal de Aviação Civil (AFAC) do México.
A chegada de passageiros ao destino deixou a tendência de alta desde agosto passado, mantendo-se em queda até dezembro. O fator de ocupação despencou mais de dez pontos percentuais, para 62,4% em dezembro, embora tenha recuperado para 72,4% em janeiro. E os impactos no Turismo não param por aí.
Receptivos tiveram que apostar no público de luxo
Com a implementação do visto mexicano, os receptivos locais tiveram de mudar sua estratégia e apostar em públicos específicos para sobreviver.
“De agosto do ano passado a janeiro deste ano, tivemos queda de 60% no número de clientes brasileiros, e em março, que já é um mês de baixa, a queda chegou a 80%”, conta a diretora do receptivo AT Travel, Lilian Zanon, que também é cônsul honorária do Brasil em Cancun.
Ela relata que o receptivo teve de reduzir sua equipe e passou a focar em clientes de outros destinos da América Latina, além do público de luxo. “Temos grande apoio dos operadores e agentes de viagens. Há muita pré-venda para o público AA por meio de agências de luxo, inclusive para passageiros que têm o visto dos EUA, então conseguimos atingir um tíquete mais alto, o que nos dá condições de sobrevivência”, conta Lilian.
A estratégia tem sido a mesma adotada pela empresa de representação DGX International Travel. “Temos como clientes dois produtos de luxo e alto luxo, e o público que visita os hotéis Xcaret e Los Cabos costuma ter visto americano ou passaporte de outras nacionalidades. Estamos tendo apoio das operadoras para focar os esforços promocionais nesse público”, conta a diretora executiva e cofundadora da DGX International Travel, Diana Pomar.
Companhias aéreas reajustaram planos
O impacto do visto nas companhias aéreas também não foi leve e fez com que elas tivessem que recalcular a rota.“Ajustamos nossos planos. Estávamos com voos de temporada diretos Guarulhos-Cancun e tínhamos planos de torná-los voos regulares. Esse projeto está em stand by”, conta a country manager Brazil, Peru & Bolivia da Aeromexico, Bruna Freitas.
Para mitigar o impacto, a companhia aérea reduziu a oferta nos voos Guarulhos-México, passando do Boeing 787-9 com 274 lugares para a versão menor, o DreamLiner 787-8 com 243 lugares (redução de 31 assentos por voo). “Saímos de um fator de ocupação de 93% para 75%. E seguimos com sete voos semanais”, conta Bruna.
Os impactos também foram sentidos pela Copa Airlines, que passou a oferecer isenção de penalidade para reitineração do bilhete. “Fizemos isso para não penalizar passageiros que já tinham o bilhete emitido. Por exemplo, o passageiro que ia de São Paulo a Cancun poderia passar para Punta Cana pagando apenas a diferença de tarifa”, conta o gerente de Vendas de São Paulo da Copa Airlines, Raphael de Lucca. “O que ouvimos do mercado hoje é que o México está na mão de quem pede por ele, não há oferta proativa do agente para o passageiro."
“Houve aumento nas buscas por outros destinos, como Punta Cana, St. Martin, Curaçao e Aruba, mas nenhum deles cresceu com o mesmo volume que Cancun tinha”, complementa a gerente de Vendas do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Manaus e Porto Alegre da Copa Airlines, Monica Afonso.
Agentes relatam insegurança para vender México
As agências de viagens especializadas em casamento e lua de mel no Caribe tiveram de mudar sua estratégia de vendas diante da exigência do visto mexicano e relatam insegurança para vender o destino.“O próprio governo do México divulgou um alerta para não comprar viagens sem ter o visto. Não há como entrar em contradição com isso. Não sentimos segurança de oferecer o destino porque sabemos que o processo para obter o visto no consulado não é tranquilo”, comenta o diretor da LoveTrips Viagens, Marcelo Beltrame (eleito um dos Melhores do Turismo PANROTAS 2022)
Mesmo assim, a agência continua oferecendo o México para seus passageiros. “Só que 99% deles desistem do destino ao saberem da questão do visto”, conta Beltrame. Isso fez com que ele tivesse que remanejar seis casamentos que aconteceriam em Cancun para Punta Cana no ano passado. No Carnaval deste ano, houve um caso de noivos que fecharam em Cancun um pacote para 80 convidados e receberam 40, porque muitos não conseguiram o visto ou desistiram.
O mesmo acontece com os clientes da agência Kemp Wedding. “Mais de 50% dos casais optaram por trocar o México por Punta Cana, Curaçao e Aruba. As pessoas estão com medo, porque é uma viagem cara, e se não tiverem a garantia de que poderão viajar, preferem ir para outro lugar”, destaca o diretor da agência, Thiago de Paula.
Operadoras e redes hoteleiras apostam nas exceções do visto
Diante da insegurança dos agentes para vender México, operadoras de viagens e redes hoteleiras têm apostado nas exceções do visto e nas capacitações para manter o destino na prateleira.“Os agentes não podem esquecer que quem tem visto dos EUA, Canadá, Espaço Schengen, Japão e Reino Unido pode entrar no México tranquilamente”, lembra a diretora de Vendas da RCD Hotels no Brasil, Carla Cecchele.
“Começamos a fazer campanhas para que as agências não tenham medo de oferecer México como destino para os passageiros que tenham esses outros tipos de visto válidos. Falta informação, as agências estão com medo de sugerir o México como destino por insegurança”, complementa Carollina Abud, country sales senior manager do Palladium Hotel Group, que registrou uma queda nas vendas em torno 60% em todos os hotéis do México.
A Inclusive Collection, part of World of Hyatt, por sua vez, acredita que o desejo de visitar o México permanece alto entre os brasileiros. “Nossas equipes comerciais têm fornecido suporte e treinamento para consultores de viagens e distribuidores terceirizados a fim de facilitar o processo de aquisição de vistos”, destaca o diretor de Vendas América do Sul da Inclusive Collection, Alexander Ruiz.
Afinal, como afirma o diretor do B2B da CVC Corp, Rodrigo Sienra, ainda há muito espaço para vender México. “É um destino incrível que continua sendo atrativo. Estamos muito interessados em ajudar o agente a fazer mais negócios por meio de treinamentos e material de suporte, para que ele possa apresentar alternativas ao passageiro”, comenta.
CONCORRENTES GANHAM RELEVÂNCIA
Sienra conta que desde que o visto foi implementado, houve uma queda de 60% nas vendas de Cancun, mas outros destinos, como Aruba, Curaçao, Barbados, Belize e Colômbia, vêm ganhando espaço nas vendas. “Temos divulgado muito esses destinos para que o agente os direcione à necessidade do passageiro que procura por esse perfil de viagens”.O mesmo faz a Orinter, que viu uma queda de 70% na procura de Cancun. “Das viagens que já haviam sido comercializadas para Cancun, grande parte foi alterada para destinos como Punta Cana. Os parceiros de redes hoteleiras e companhias aéreas se solidarizaram e nos apoiaram nessas alterações”, conta o diretor comercial da operadora, Roberto Sanches.
Outros destinos caribenhos também estão fortes na Diversa Turismo, que nos dois primeiros meses deste ano já alcançou 50% das vendas de Punta Cana do que vendeu ano passado. “É um destino que vem em alta para 2023”, frisa a diretora de Produtos e Operações da Diversa, Adriana Fredericce.
“Estamos fomentando também a venda conjugada do Caribe mexicano com outros países, como os Estados Unidos, por exemplo, aproveitando a boa conectividade da Copa Airlines entre ambas as regiões. O passageiro fica cinco ou seis noites em Cancun e depois faz uma extensão para Orlando e outros destinos nos EUA”, conta Adriana.
A ViagensPromo também viu um crescimento notável nas vendas de Punta Cana e destinos como Cartagena, Curaçao e Aruba, mas continua apostando em Cancun. “Temos bloqueio para Cancun no Réveillon e continuamos apostando no destino”, conta o sócio diretor da operadora, Renato Alves. No segundo semestre de 2022, A ViagensPromo tinha um fretamento direto para Cancun assinado com a Latam, mas cancelou a venda do produto, devido ao visto.
Carla Cecchele, por sua vez, conta que a RCD tem uma base de 70% a 80% das vendas voltadas a Punta Cana e restante fica para o México. “Houve redução nas vendas de México, mas os nossos hotéis, por serem tíquete médio alto, contem com a possibilidade de os hóspedes terem visto americano, então as vendas não zeraram”.
Despreparo do Consulado mexicano
O México exige o visto, mas o Consulado mexicano no Brasil não está preparado para emiti-lo. Essa foi a crítica feita por diversos players que participam dessa matéria.“A imposição do visto sem ter uma política organizada por parte do consulado ajudou a causar esse problema no mercado. Muitos outros destinos ainda exigem vistos, mas eles têm política de emissão, estrutura, comunicação clara com o mercado, não existe um problema. Além disso, o consulado não tinha estrutura para atender a demanda que já havia sido comercializada”, destaca Roberto Sanches, diretor comercial da Orinter.
“O passageiro que tem intenção de imigrar é diferente daquele que compra um hotel de sete a dez noites de alto padrão no Caribe. Para as operadoras que comercializam pacotes de lazer, o índice de imigração beira a zero, o propósito das viagens é puramente lazer, então acredito que deveria haver uma distinção dos canais de venda e não colocar todo o mundo dentro de uma mesma cesta”, comenta Sanches.
“A gente sente que o interesse no México existe, as agências ainda apostam no destino, mas o consulado mexicano não conseguiu se estruturar e há dificuldade em conseguir agendamento. A questão é que ninguém acha ruim o México exigir visto, a gente também tem que exigir o visto de outros países. O problema é que não há estrutura para fazer esse visto, o consulado não dá suporte. O Brasil inteiro tem dois consulados e uma embaixada, é pouco”, afirma a diretora de Vendas da RCD Hotels no Brasil, Carla Cecchele.
O que diz o Consulado
O Consulado Geral do México em São Paulo atendeu à solicitação do Portal PANROTAS para que se posicionasse sobre essa questão e enviou o seguinte comunicado:O Consulado mantém comunicação permanente com agências de viagens, operadoras de turismo, companhias aéreas e meios de comunicação. Muitas informações foram divulgadas e várias reuniões foram realizadas com agências para explicar a questão do visto e as exigências. Felizmente, a indústria entendeu a situação, embora seja inegável que houve um impacto sobre um certo tipo de turismo brasileiro no México.
Nós sabemos que há muitas pessoas querendo viajar e em vez de abrir agenda para datas muito distantes, que provavelmente vão se esgotar muito rápido, abrimos a agenda a cada semana com uma distância curta de uma semana a um mês, aproximadamente. Por exemplo, na quinta-feira, 27 de abril, abrimos agenda para a semana de 29 de maio a 2 de junho. Somos muito transparentes com as publicações das datas para agendamentos, qualquer pessoa pode nos seguir nas redes sociais para saber quando elas estarão disponíveis. As vagas não são liberadas em outros momentos. A única página para realizar o agendamento é através do portal citas.sre.gob.mx
Adicionalmente, recebemos muitas solicitações para viagens de emergência por motivos médicos, familiares, de estudos, trabalho, etc., que tentamos atender com as vagas que ficam disponíveis a cada semana devido a alguns cancelamentos.
Sabemos como é difícil conseguir agendar, mas isso se dá pela alta demanda. Todas as vezes que abrimos agenda, as vagas se acabam em poucos minutos. A recomendação para as pessoas que desejam solicitar é tentar às quintas-feiras à tarde, que é quando abrem as vagas. Mesmo assim, recomendamos realizar o cadastro no portal com antecedência e ter todas as informações em mãos para poder realizar o agendamento com êxito. Quando o sistema não permite continuar o processo de agendamento não é por um erro. Realmente significa que não existe disponibilidade no momento, ou seja, todas as vagas foram preenchidas e recomenda-se esperar a próxima semana.
Desde que começaram a exigir visto para os cidadãos brasileiros, o Consulado aumentou a quantidade de vagas e aumentou os esforços para atender mais pessoas, analisar seus documentos e conseguir emitir os vistos necessários. Aumentamos o número de funcionários e de equipamentos de informática, mas o atraso provocado pela pandemia ainda continua. Esperamos que na segunda metade deste ano seja mais fácil conseguir agendar e que mais pessoas possam viajar.
O tão aguardado retorno do visto eletrônico
A Comissão de Relações Exteriores da América Latina e Caribe aprovou recentemente um ponto de acordo para solicitar à Secretaria de Estado do governo do México a retomada do sistema de emissão de vistos eletrônicos para turistas brasileiros que entram no país por via aérea.Mas ao que tudo indica, a decisão do retorno do visto eletrônico depende do que será debatido em uma reunião entre o presidente Lula e o presidente do México, Andrés Manuel López.
“Recentemente tive uma call com a embaixadora do México e na reunião foi revelado que há o interesse do governo mexicano para tratar desse assunto com o governo brasileiro no segundo semestre deste ano”, conta a gerente de Vendas do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Manaus e Porto Alegre da Copa Airlines, Monica Afonso.
“De fato, já há uma conversa entre ministros de relações exteriores, mas um encontro entre presidentes deve definir os próximos acontecimentos. Sabemos que há uma solicitação forte por uma visita do Lula por parte do presidente do México e o diálogo com o governo atual está mais favorável do que com o governo anterior”, conclui a diretora do receptivo AT Travel, Lilian Zanon.