Quem fecha primeiro: o caixa ou o hotel?
Novas práticas como serviços de higienização e diminuição de aglomeração serão implementadas pelos hotéis
Com diárias médias, a hotelaria no Brasil se mostrou muito abaixo do razoável por vários anos, dificultando novos investimentos e a saúde da indústria. Há dois anos atrás, quando o mercado começou a se recuperar, novos empreendimentos foram concretizados e a crença no potencial do Turismo foi retomada. Porém, a chegada do covid-19 trouxe uma reviravolta na economia.
O presidente executivo do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), Orlando de Souza, comenta o tema em seu mais recente artigo. Leia abaixo, na íntegra:
"Muito possivelmente este parágrafo parecerá óbvio ou desnecessário, uma vez que o assunto aqui discutido é de interesse de profissionais há muito tempo atuando no mercado. Não custa, no entanto, lembrar fundamentos de Economia para relembrar outro perigo, no mar de dificuldades, que o turismo enfrenta: queda de tarifas. Não é preciso ser um Prêmio Nobel para imaginar que qualquer indivíduo só abre um negócio se percebe que cada unidade monetária investida trará, no mínimo, frações adicionais suplementares ao valor inicial. Mesmo o mais ferrenho empreendedor, apaixonado por riscos e pelo trabalho, entende que não vale a pena criar uma empresa se o dinheiro não trouxer retorno em algum momento. Atividades deficitárias por muito tempo- quando necessárias- são assumidas pelo Estado ou por ONGs.
Da mesma maneira qualquer curso de negociação ensina que há um limite razoável para uma transação comercial. E, por isso, não há como forçar um valor em uma venda se ela se mostrar inviável para a manutenção da atividade negociada.
As diárias médias hoteleiras no Brasil se mostraram muito abaixo do razoável por vários anos, dificultando novos investimentos e a saúde da indústria. Há pouco menos de dois anos é que o mercado começou a recuperar valores que eram praticados em 2015, pouco antes da debacle pela qual o país passou e vinha lentamente se recuperando. A abertura de novos empreendimentos se deu, não porque a hotelaria remunerava bem seus investidores, mas porque havia uma euforia e uma crença verdadeira no potencial do turismo no país.
Se o cenário era realmente promissor, a chegada do covid-19 tratou de criar uma reviravolta na economia, atingindo primeira e mais intensamente o setor de viagens que, segundo todos os estudos macroeconômicos, será o último a se recuperar.
Os números até o presente são dramáticos: uma taxa de ocupação média de um dígito; mais da metade dos hotéis fechados e dezenas de milhares de desempregados. Os prognósticos também apontam que uma nova realidade em biossegurança se faz já necessária em espaços públicos. Os novos protocolos na preservação da saúde pública exigirão novos patamares de investimentos.
Assim como aconteceu em 2001, novas práticas serão incorporadas em aeroportos, aeronaves, se estendendo também para hotéis, restaurantes e demais espaços que possam abrigar aglomerações.
Além de novos equipamentos, produtos e serviços de higienização, idênticas àqueles utilizados em hospitais, será preciso diminuir o número de pessoas em um empreendimento: seja ele um hotel, um espaço de eventos ou um avião. Não são poucos os especialistas que alertam para a inevitabilidade do aumento nas tarifas: já que as despesas fixas maiores serão rateadas por um menor número de clientes, sem mencionar o aumento importante nos custos variáveis.
Há momentos em que se pede lucidez. Os antigos já sabiam que exigir mais leite ou ovos, de vacas ou galinhas enfraquecidas, sem alimentá-las adequadamente obriga o fazendeiro a se tornar vegano porque não haverá vacas, nem galinhas e, portanto, nada de ovos, leite e até carne.
O mercado é livre. Guerra tarifária é um direito de todos. Dos que querem vender, quanto os que querem comprar. Mas ela só é possível em uma economia com fundamentos sólidos e um cenário saudável. Guerra com soldados enfraquecidos é prenúncio de tragédia. Não é por preço que os hóspedes não aparecem. É porque fronteiras estão fechadas, autoridades pedem isolamento doméstico e as pessoas têm medo.
Segurança e investimentos importantes em biossegurança e tecnologia serão critérios essenciais a serem observados por hóspedes, gestores de viagens, agentes e operadoras. E eles pedem investimentos que serão incorporados nos orçamentos.
É preciso cautela e serenidade. E mais do que nunca paciência e calculadora. Não é só o mercado que vai determinar as tarifas. Será o caixa de cada empreendimento. Se a conta não fechar, quem fecha é o hotel.
Orlando de Souza"
O presidente executivo do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), Orlando de Souza, comenta o tema em seu mais recente artigo. Leia abaixo, na íntegra:
"Muito possivelmente este parágrafo parecerá óbvio ou desnecessário, uma vez que o assunto aqui discutido é de interesse de profissionais há muito tempo atuando no mercado. Não custa, no entanto, lembrar fundamentos de Economia para relembrar outro perigo, no mar de dificuldades, que o turismo enfrenta: queda de tarifas. Não é preciso ser um Prêmio Nobel para imaginar que qualquer indivíduo só abre um negócio se percebe que cada unidade monetária investida trará, no mínimo, frações adicionais suplementares ao valor inicial. Mesmo o mais ferrenho empreendedor, apaixonado por riscos e pelo trabalho, entende que não vale a pena criar uma empresa se o dinheiro não trouxer retorno em algum momento. Atividades deficitárias por muito tempo- quando necessárias- são assumidas pelo Estado ou por ONGs.
Da mesma maneira qualquer curso de negociação ensina que há um limite razoável para uma transação comercial. E, por isso, não há como forçar um valor em uma venda se ela se mostrar inviável para a manutenção da atividade negociada.
As diárias médias hoteleiras no Brasil se mostraram muito abaixo do razoável por vários anos, dificultando novos investimentos e a saúde da indústria. Há pouco menos de dois anos é que o mercado começou a recuperar valores que eram praticados em 2015, pouco antes da debacle pela qual o país passou e vinha lentamente se recuperando. A abertura de novos empreendimentos se deu, não porque a hotelaria remunerava bem seus investidores, mas porque havia uma euforia e uma crença verdadeira no potencial do turismo no país.
Se o cenário era realmente promissor, a chegada do covid-19 tratou de criar uma reviravolta na economia, atingindo primeira e mais intensamente o setor de viagens que, segundo todos os estudos macroeconômicos, será o último a se recuperar.
Os números até o presente são dramáticos: uma taxa de ocupação média de um dígito; mais da metade dos hotéis fechados e dezenas de milhares de desempregados. Os prognósticos também apontam que uma nova realidade em biossegurança se faz já necessária em espaços públicos. Os novos protocolos na preservação da saúde pública exigirão novos patamares de investimentos.
Assim como aconteceu em 2001, novas práticas serão incorporadas em aeroportos, aeronaves, se estendendo também para hotéis, restaurantes e demais espaços que possam abrigar aglomerações.
Além de novos equipamentos, produtos e serviços de higienização, idênticas àqueles utilizados em hospitais, será preciso diminuir o número de pessoas em um empreendimento: seja ele um hotel, um espaço de eventos ou um avião. Não são poucos os especialistas que alertam para a inevitabilidade do aumento nas tarifas: já que as despesas fixas maiores serão rateadas por um menor número de clientes, sem mencionar o aumento importante nos custos variáveis.
Há momentos em que se pede lucidez. Os antigos já sabiam que exigir mais leite ou ovos, de vacas ou galinhas enfraquecidas, sem alimentá-las adequadamente obriga o fazendeiro a se tornar vegano porque não haverá vacas, nem galinhas e, portanto, nada de ovos, leite e até carne.
O mercado é livre. Guerra tarifária é um direito de todos. Dos que querem vender, quanto os que querem comprar. Mas ela só é possível em uma economia com fundamentos sólidos e um cenário saudável. Guerra com soldados enfraquecidos é prenúncio de tragédia. Não é por preço que os hóspedes não aparecem. É porque fronteiras estão fechadas, autoridades pedem isolamento doméstico e as pessoas têm medo.
Segurança e investimentos importantes em biossegurança e tecnologia serão critérios essenciais a serem observados por hóspedes, gestores de viagens, agentes e operadoras. E eles pedem investimentos que serão incorporados nos orçamentos.
É preciso cautela e serenidade. E mais do que nunca paciência e calculadora. Não é só o mercado que vai determinar as tarifas. Será o caixa de cada empreendimento. Se a conta não fechar, quem fecha é o hotel.
Orlando de Souza"