Artur Luiz Andrade   |   07/07/2022 08:30
Atualizada em 07/07/2022 14:15

Por que a passagem aérea está tão cara no Brasil? Entenda

Veja 6 motivos que ajudam na alta dos bilhetes aéreos no País

Tarifa aérea doméstica é a maior desde 2015
Tarifa aérea doméstica é a maior desde 2015
Não é um fenômeno exclusivo do Brasil e sim um acontecimento mundial: passagens aéreas com preços nas alturas, em meio a forte demanda, especialmente de lazer, pressão nos custos, falta de pessoal e índices econômicos desfavoráveis.

Uma típica tempestade perfeita.

O Portal PANROTAS, com ajuda de dados oficiais e da assessoria técnica da Abear, lista a seguir os principais motivos para essa alta das passagens aéreas, o que deve continuar ainda por alguns meses. Será que a demanda reprimida da pandemia continuará alta diante desses preços? A volta das viagens corporativas vai empurrar as tarifas ainda mais para cima? A volta dos aviões parados, especialmente da Gol, vai ajudar a derrubar os preços? Muitas perguntas sem respostas objetivas, mas vejamos abaixo as principais causas desse avanço das tarifas aéreas no Brasil.

1 – Alta do combustível de aviação

O querosene de aviação aumentou 70,6% somente este ano, segundo dados da Petrobras, que avalia 15 refinarias do País. Levantamento da Abear com informações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que no período de 12 meses, de junho de 2021 a junho de 2022, o QAV acumula aumento de 102,4%, superando as variações da gasolina (+39,6%), óleo diesel (+45,8%) e GLP (+29,98%) no mesmo período, segundo o critério de produtores e importadores de derivados de petróleo.

2 – Inflação e custo Brasil

O aumento geral de custos das empresas aéreas e a inflação do setor não são dados a que temos acesso, mas olhando os balanços financeiros das empresas vemos a disparada dos custos.

Um dado divulgado recentemente pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostra o impacto dos custos para o setor: o prejuízo acumulado das principais empresas aéreas brasileiras em 2021 foi de R$ 15,2 bilhões. Em 2020, o prejuízo líquido já havia sido de R$ 20,3 bilhões.

A inflação também corrói o poder de compra do brasileiro e planos podem ser adiados por isso. Por ora, planejamento e investimento nos viajantes de alto poder aquisitivo são boas estratégias.

3 – Alta do dólar

O gráfico abaixo, fornecido pela Abear, mostra o histórico da variação do dólar de 2010 a 2021 e como a valorização da moeda norte-americana, que indexa mais de 50% dos custos do setor de aviação, impacta as empresas aéreas.


4 – Alta demanda doméstica

Os dados mais recentes da Anac mostram que a demanda por voos domésticos tem queda de apenas 2,5% em maio, diante de igual mês de 2019. A oferta teve aumento de 6% e supera valores pré-pandemia.

A taxa média de ocupação das aeronaves ficou em 75,1%, um recuo de 6,6 pontos percentuais, o que liga um sinal de alerta de que a demanda possa estar assustada com os altos preços. No total, foram transportados 6,4 milhões de passageiros, com retração de 10% diante de maio de 2019.

Comparando maio com abril deste ano, a demanda doméstica cresceu 3,4%, com a oferta subindo 7,9%.

A taxa média de ocupação dos aviões, por sua vez, teve retração de 3,2 pontos percentuais.

A demanda reprimida está aí. Mas até quanto resistirá à alta de preços?

5 – Oferta internacional limitada

No internacional, há de 30% a 40% menos voos em relação a 2019 (dados das aéreas nacionais). A previsão de normalização dessa malha é 2023 para a Gol e 2024 para a Latam, segundo declarações no último Fórum PANROTAS.

O gráfico abaixo, da Abear, mostra o comportamento da malha de voos internacional durante a pandemia. As barras amarelas mostram a média diária de voos em cada mês. As barras azuis fazem uma comparação com a média diária de decolagens em cada mês antes da pandemia. O dado de julho mostra que as empresas aéreas nacionais estão operando com 59,4% da quantidade de partidas internacionais em comparação com a operação aérea pré-pandemia.

6 – Problemas de mão de obra

Tanto a recontratação, quando as licenças por conta de casos de covid geram atrasos, cancelamentos, malha menor e maior custo. A Abear, em nota, diz que “desconhece que haja atualmente problemas com mão de obra entre suas associadas”. “O que aconteceu em meados de janeiro deste ano, com o avanço da variante ômicron do coronavírus, foi o remanejamento de escalas de tripulações e a autorização concedida pela Anac para que as empresas pudessem operar com um comissário (a) a menos para minimizar e evitar eventuais cancelamentos de voos, devido ao contágio de colaboradores. No entanto, é importante ressaltar que essa situação já foi superada. Vale lembrar que historicamente em torno de dois terços das responsabilidades por atrasos em voos não são das companhias aéreas, mas por outros fatores como condições meteorológicas ou tráfego aéreo.”

A Abear continua: “Destacamos que a malha aérea doméstica registra, em julho, 88,2% da média diária de voos que as companhias aéreas operavam antes da pandemia do novo coronavírus. É o maior nível de retomada da oferta de voos domésticos e a Abear destaca que a operação de suas associadas (Gol, Latam Brasil, Voepass, Abaeté, Rima e Sideral) está absolutamente normal. O mesmo acontece nos voos ao mercado internacional, onde a malha aérea registra, em julho, 59,4% da operação pré-pandemia.”

O Portal PANROTAS entende o posicionamento da Abear, mas reafirma que há gargalos de funcionários em diversos setores. Recentemente tivemos acesso a avisos da Gol e da Latam dizendo que as centrais de atendimento estavam sobrecarregadas e que a prioridade era o cliente com passagens para as 48 horas seguintes. No 0300 da Gol, por exemplo, 45 minutos de espera não foram suficientes para um atendimento.

No Fórum PANROTAS 2022, o presidente da Latam, Jerome Cadier, afirmou que essa alta de preços deve continuar por um tempo e que mesmo assim as empresas aéreas ainda estavam operando deficitárias. É uma equação desafiadora, que impacta todo o setor e que, por enquanto, não impediu o viajante de apostar em revenge travel, bleisure, viagens de bem estar, férias com a família, viagens corporativas essenciais, busca pela natureza, visitas a parentes e volta a seus destinos favoritos.

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DESAFIOS MUNDIAIS

Inflação, dólar em alta, preço alto do combustível e gargalos na mão de obra são desafios mundiais, que não são exclusividade da aviação brasileira. Ainda mais com uma guerra em andamento na Europa.

No mês passado, no IPW, em Orlando, o vice-presidente da United Airlines na América Latina, Alex Savic, afirmou que, por causa do impacto das tarifas altas, destinos, empresas e governos teriam de ser criativos e investir em formas de financiamento das viagens, algo que no Brasil já conhecemos bem, a começar pelos parcelamentos em até 12 vezes, pagamento em boletos, pagamentos antes da viagem e pagamentos com mais de uma forma (dinheiro e cartão de crédito, por exemplo).

Por enquanto, estamos viajando e precisamos viajar. Nós da indústria, entendemos os aumentos (que não são exclusividade da aviação) e buscamos alternativas criativas. Os custos do aéreo podem atrasar nossos desejos, mas com planejamento, meios de pagamento facilitados e torcida para a economia melhorar continuaremos a recuperação de todo o setor.

Divulgação/Vinci Airports


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